quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

As vias de comunicação antes do “Macadame” em Alpedrinha – Parte I

Alpedrinha, como qualquer povoação portuguesa esteve bastante isolada dos mercados nacionais, nomeadamente Lisboa, até à segunda metade do séc. XIX devido à inexistência de vias de comunicação. O que verdadeiramente podemos chamar de estradas (estradas macadamizadas) só chegaram a esta vila por volta de 1860, cerca de 30 anos antes do caminho de ferro. Em 1849 tinha começado efectivamente a construção dessas estradas a nível nacional, mas apenas com a mudança política dos governos da “regeneração”, esse esforço tornou-se consistente produzindo resultados visíveis nas décadas seguintes por todo o país.
            No entanto, se recuarmos aos finais do séc. XVIII, foi com D. Maria I que houve a preocupação de se repararem e alinharem as estradas e caminhos existentes ou construirem novos, embora esse esforço caisse por terra devido às dificuldades que o país sofreu no início do séc. XIX, a «guerra das laranjas» e as invasões francesas, entre outras. Em outra ocasião teremos oportunidade de abordar com mais pormenor o que acabamos de escrever.
            Assim, gostariamos de nos concentrar nas denominadas estradas ou caminhos que existiam antes de D. Maria I, em pleno séc. XVIII. Para isso vamo-nos auxiliar do dicionário geográfico de Luiz Cardoso, cujo primeiro volume foi editado em 1747. Patrocinado pela Academia Real de História, foram ordenados três inquéritos, “o primeiro das terras, o segundo das serras, e o terceiro dos rios”, que seriam respondidos pelos párocos das freguesias, provavelmente porque conheceriam melhor os lugares e as gentes, afim de se poder elaborar aquele grande dicionário, que infelizmente não passou do segundo volume. No entanto, os inquéritos foram respondidos pelos párocos e enviados para Lisboa, permanecendo hoje na torre do Tombo e aos quais temos acesso por internet.
            Embora não faça referência directa às estradas ou caminhos dos povoados é curiosa a 4ª questão:
            “4 Se está situada em campina, valle, ou monte, e que povoações se descobrem della?”
            Para felicidade nossa, a resposta do vigário frei TeodozioRoiz Peralta foi muito interessante porque ao contrário dos seus pares, ao mencionar as povoações que se avistam de Alpedrinha, teve o cuidado de alistar as estradas e caminhos que levavam a esses povoados. Será que ainda conseguimos identificar essas estradas hoje? Houve grandes mudanças na vila e provavelmente alguns desses caminhos deixaram de ser usados até por via da construção da estrada real de macadame (agora nacional 18). Bem, após um trabalho de campo algo minucioso, bem como através de consulta bibliográfica e cartográfica da época, conseguimos identificar ainda os diferentes caminhos a que o vigário se refere. Mas comecemos por transcrever o que ele registou no inquérito ao responder à referida questão:
            “Está situada nas faldas de hum cotovelo, que para as partes do Poente lansa a serra, mas na declinação para Nascente tão superior à grande campanha, que descobre, que havendo por muytas partes della serras e outeiros, tudo parece raso, e lhe fica sugeito avista desde o Nascente athé ao Sul, e das janellas de suas cazas, as povoaçõez seguintez – Val de Prazeres que dista desta villa huma legoa – e da Cortiçada huma legoa e hum quarto – tomando a estrada de Péna macor se avista – o lugar do Pedrogão, que dista quatro legoas, - e das Agoaz quatro legoas e meya – e de Aldeya do Bispo sinco legoas – e o das Aranhas sette legoas; tomando pella estrada de Monsanto logo se avista – Monte da Martim Annez que dista desta Alpedrinha trez legoas – Aldeya de Santa Margarida quatro – a villa de Bemposta quatro – o lugar de Medelim pouco mais de quatro, - e a ditta vila de Monsanto sinco – e a de PennaGracia seis legoas; tomando a estrada para a Praça de Salvaterra logo se avista o lugar da – orca que dista desta villa de Alpedrinha duas legoas – a villa de Proensa a velha quatro legoas – a de Idanha a velha sinco – o lugar de Alcafozes seis – os Toulois sette – e a ditta Praça de Salvaterra nove legoas – a de Segura outo legoas – a villa da Zibreira outo legoas; e tomando o caminho que vay para a villa de Rosmaninhal se avista – a villa de São Miguel Dacha que dista desta de Alpedrinha tres legoas – o Lugar do Oledo que dista quatro  legoas – e a villa de Idanha a nova suposto se lhe não vê senão a serra sinco legoas – o lugar de Ladoeio sette – e a ditta villa de Rosmaninhal dista nove legoas; e tomando o caminho que vay para Monforte de Castello Branco se avista logo – o lugar da povoa d Attalaya que dista desta de Alpedrinha huma legoa – a villa de Attalaya outra legoa – o lugar das Zebras duas legoas – o lugar de Escallos de Sima trez legoas – o de Escallos de baxo pouco mais de trez legoas; - o lugar da Louza trez legoas e meya – e o ditto lugar de Monforte sette legoas; e tomando as estradas que vão desta villa de Alpedrinha para Alem Tejo se avista – o lugar da Lardoza que dista desta villa duas legoas – o de Alcainz trez legoas – o da Povoa de Rio de Moinhos trez legoas – o de Cafede quatro legoas – e a villa de Castello Branco sinco legoas e passando o Tejo – a villa de Castelo de Vide que dista quatorze legoas – e a villa de Marvão que dista desta Alpedrinha dezaseis legoas; e ultimamente se avista em toda a circunferencia desta campanha as serras i Raya de Castella desde a Praça de Marvão atte o lugar das Aranhas termo da villa e Praça de Pennamacor.”           
            Auxiliando-nos de uma tabela podemos elencar as estradas e caminhos da seguinte maneira:

Nome da estrada/caminho
Localidades
Distância em léguas
Vale de Prazeres
Vale de Prazeres
1 légua

Cortiçada
1 légua e ¼
Penamacor (estrada)
Pedrógão
4

Águas
4 e ½

Aldeia do Bispo
5

Aranhas
7
Monsanto (estrada)
Martianas
3

Aldeia de Santa Margarida
4

Bemposta
4

Medelim
mais de 4

Monsanto
5

Penha Garcia
6
Praça de Salvaterra (estrada)
Orca
2

Proença-a-Velha
4

Idanha-a-velha
5

Alcafozes
6

Toulões
7

Salvaterra
9

Praça de Segura
8

Zebreira
8
Rosmaninhal (caminho)
S. Miguel D' Acha
3

Oledo
4

Idanha-a-Nova
5

Ladoeiro
7

Rosmaninhal
9
Monforte (caminho)
Póvoa da Atalaia
1

Atalaia
1

Zebras
2

Escalos de Cima
3

Escalos de Baixo
mais de 3

Lousa
3 léguas e ½

Monforte
7
Estradas do Alentejo (2)
Lardosa
2

Alcains
3

Póvoa de Rio de Moinhos
3

Cafede
4

Castelo Branco
5



            Com esta tabela podemos verificar com mais facilidade alguns dados. Desde logo, a primeira estrada ou caminho não é mencionado como tal, uma vez que ficava muito perto da vila e fazia parte do seu termo (concelho) e o autor achou desnecessário referi-lo. Ademais, é a mesma estrada que vem a seguir. Por isso, mencionou apenas que Vale de Prazeres ficava a uma légua de distância da vila e a Cortiçada logo a seguir. Hoje chega-se a Vale de Prazeres pela estrada nacional nº 18, cortando depois à direita em plena serra. Mas não é a esta estrada que o autor se referia, pois não existia nos seus dias. Refere-se sim à estrada que partia do largo do Rossio (actualmente por baixo do viaduto da E.N. 18 junto ao cruzeiro; lembremo-nos que a abertura da estrada nacional fêz subir o solo da vila para estar ao nível daquela), subia os barreiros e enveredava pelo estrada que passa junto à quinta do anjo da guarda da parte de baixo e segue até Vale de Prazeres. De acordo com Mota era também por esta que se dirigiam à antiga capela do anjo da guarda, já desaparecida (não confundir com a actualmente existente), o que a gravura ao lado representa muito bem. Observando com atenção, no lado esquerdo da estrada que sai para Vale de Prazeres e Cortiçada, situa-se uma capela com o nome de S. Miguel Arc. ( correspondente de acordo com a tradição católica ao anjo da guarda.)

sábado, 7 de agosto de 2010

ALPEDRINHA - Património, Dinâmicas locais e Desenvolvimento, 1999


«Evocar o nome da terra ou da comunidade em que se insere, é exercício que não é de modo algum inócuo, tem sempre algo de marcante. Infelizmente, quando isso não acontece, sucedem os problemas do desenraizamento e facilmente se resvala para a delinquência e marginalidade, refúgios finais para quem se desliga de muitos valores em que se viveu, ao quebrarem-se aqueles laços de harmonia que são, em suma, o cimento das identidades.»
Carlos Tavares Rodrigues, «A identidade local no contexto europeu»,

«O desenvolvimento das pessoas é obra das próprias pessoas; nem só uma pode descarregar sobre outrem o cuidado da sua existência humanizada e da sua própria expansão.»
François Perroux, «Ensaio sobre a Filosofia do Novo Desenvolvimento».






APRESENTAÇÃO
Vários exemplos de desenvolvimento sustentável, gerados em torno alguns interessantes conjuntos patrimoniais edificados e de bem aproveitados recursos naturais, conduziram várias localidades deste país a uma revitalização que, com sucesso, as recolocou no mapa dos sítios de referência testemunhal do nosso passado colectivo. São os casos de Monsaraz, Marvão (no Alentejo), Idanha-a-Nova e Belmonte (na Beira Interior), e muitos outros exemplos do género.
Estes reportórios de memória testemunham a possibilidade de reabilitar e dinamizar o que aparentemente parecia perdido, criando pequenas dinâmicas locais de desenvolvimento.
Estes exemplos, e outros do mesmo género, partiram de iniciativas individuais cuja discussão foi alargada às populações, as quais tomaram estes projectos como seus e conduziram as respectivas comunidades a um lento mas seguro processo de desenvolvimento social baseado:

• No património edificado.
• Na paisagem natural envolvente protegendo e mesmo recriando a paisagem e flora autóctones, com percursos de observação, quer motorizados, quer pedonais.
• No clima, no termalismo e noutras condições naturais.
• Na reabilitação de alguns saberes locais.
• Em actividades festivas e saberes tradicionais, reabilitados.
• No turismo sustentável, sem alterar a integridade do ambiente ou a identidade cultural do lugar.
• Em conceitos de desenvolvimento comunitário, baseados em esforços visando favorecer o avanço social, cultural, económico e, em geral humano, pela iniciativa dos seus membros.

Alpedrinha, Casa dos Caldeiras.
Conjuntos edificados, outrora em ruínas, foram devolvidos a uma utilidade funcional que lhes deu nova vida. Reactivaram-se festas tradicionais quase caídas em desuso, impulsionou-se a recuperação do artesanato local (tecelagem e olaria), fomentou-se turismo rural e de habitação: todo uma lenta planificação executada ao longo de muitos anos, a qual acabaria por dinamizar, desenvolver e tirar do anonimato várias jóias do património português.
Em grande parte destes casos, essa reactivação ficou a dever-se ao esforço concertado das suas populações, enquadradas pelas suas elites , gerando novas dinâmicas que promoveram o reaproveitamento do seu diversificado património, rumo ao desenvolvimento sustentado e humano. Da implementação destes projectos, começaram já a reverteram benefícios e contribuíram para o desenvolvimento pessoal do maior número possível de elementos dessa comunidade.
Os exemplos citados, são apenas modestos exemplos de “vilas mortas” que começaram lentamente a ser recuperadas e reactivadas a partir da produção de artesanato, da gastronomia, empreendimentos de turismo de habitação e rural, turismo cultural: os quais têm dado os seus frutos e, deste modo, contribuído para a manutenção e preservação de algumas comunidades que, de outro modo, estavam condenadas ao desaparecimento .
Etes exemplos, juntamente com o caso em estudo, têm em comum uma tipologia caracterizada por estarem em zonas do interior economicamente deprimidas e em declínio populacional, longe dos grandes centros urbanos, muito perto da fronteira espanhola, situação geográfica esta que lhe poderá trazer alguns benefícios, apesar das ainda difíceis acessibilidades.

Nestas localidades predominava uma agricultura tradicional , actualmente em derrocada e a ser progressivamente substituída por uma agricultura de especialização centrada na aptidão dos solos e do clima. No caso em estudo temos, a floresta, a produção da cereja e a folha de tabaco. As produções tradicionais, do vinho e do azeite, não souberam ou não quiseram adaptar-se ás novas tecnologias. A indústria não tem expressão significativa.
Tal como os dois exemplos citados, os quais pela iniciativa de alguns espíritos empreendedores com auxílio de algumas instituições, souberam mobilizar as populações, com o fim de tirarem partido do seu próprio património, apostando na requalificação urbana , com vista a um desenvolvimento integrado , vamos proceder a um estudo de caso que parece ser passível de proporcionar o desenvolvimento e o reforço da identidade cultural das seus habitantes.

Alpeddinha, Casa Correia de Castro.
Pretendemos levar a sua população à fixação, criando-lhe condições e apoios para o próprio desenvolvimento baseado na ecomuseologia, museologia comunitária e em todas as outras formas de museologia activa, “que pretende incorporar todos os meios de desenvolvimento”, alargando as suas “atribuições e funções tradicionais de identificação, conservação e de educação, a práticas mais vastas que estes objectivos”, segundo os princípios consignados na Declaração do Québec (1984).
Para este efeito devemos aproveitar as organizações e agremiações de base: quer as vocacionadas para a convivialidade, quer para a solidariedade social. Estas associações, numa dinâmica de mudança, poderão estabelecer laços com todas as comunidades e regiões com problemas idênticos, nas quais se verifiquem atitudes consertadas de desenvolvimento que também tenham como objectivo tirar partido do património, para uma troca e avaliação de experiências e contributos neste domínio. Em zonas da raia espanhola, com problemas de desenvolvimento semelhantes, começam a despontar algumas experiências deste tipo, com as quais seria interessante estabelecer comparações e intercâmbio de experiências.
Estamos interessados num projecto de desenvolvimento a propor, baseado no tipo dos anteriormente citados.
A destinatária deste projecto é a pequena vila de Alpedrinha, situada no concelho do Fundão, outrora sede de concelho e pólo de desenvolvimento regional, a qual atravessa uma decadência acentuada e, por isso mesmo, constitui um desafio interessante para testar a razoabilidade da aplicação de alguns modelos do género dos anteriormente citados.

PROBLEMÁTICA
A antiga vila de Alpedrinha está inserida na Serra da Gardunha (1223 m), na periferia da fértil Cova da Beira . Esta região está pontuada de aldeias do mesmo tipo, com problemas e caracterizadas comuns, devido ao facto de estarem:
• Em zonas do interior economicamente deprimidas.
• Em declínio populacional.
• Longe dos grandes centros urbanos portugueses.
• Com dificuldades de acessibilidade .
• Muito perto da fronteira espanhola, o que lhe poderá trazer alguns benefícios.
Devido às características desta zona e à sua individualidade, não será de desprezar a constituição de um ecomuseu, predominantemente rural e integrador de todo o concelho do Fundão.
Este projecto grandioso teria como fim o estudo e a conservação do património comum, que a inércia de uns, ou o desânimo de outros, tem deixado ao abandono.
É urgente a sobrevivência e desenvolvimento deste mundo rural em extinção, como preservação dos valores matriciais da nossa identidade.
A maior ameaça destes conjuntos patrimoniais é, em nossa opinião, a uniformização de todos os aspectos da maneira de viver. Com ela vem a alteração da paisagem por via da alteração de hábitos agrícolas ancestrais, assim como a nível social a perda de referências e quebra de vários laços de solidariedade social.
«Mas quem fizer alto na portela de Alpedrinha, na estrada entre esta e o Fundão, terá debaixo dos olhos um dos contrastes geográficos mais vigorosos da terra Portuguesa: para o Norte, montanhas de cimos agrestes mas de encostas afofadas de bosques, e vales viçosos; para sul um plaino sem fim, onde as linhas de relevo desenham, acima do tom monótono, fugazes variações, uma terra clara, amarelada ou até avermelhada, batida de sol (…) Terra de soutos, carvalhais e pinhais, de pomares, hortas e milhos de regadio, viçosa de águas que recolhe em abundância das serranias que a cercam (…) » .
O diagnóstico das alterações entretanto sofridas, devido ás transformações ocorridas muito rapidamente e com alguns saltos bruscos, são comuns a grande parte da Beira Interior. Vejamos então um esquema já com alguns anos mas que encaixa nas transformações que estão a acontecer nesta zona, onde, por via do seu atraso, chegaram muito mais tarde.

As modificações recentes na paisagem desta região, caracterizam-se por:
1. Na paisagem: arborização dos incultos, substituição do arvoredo tradicional (carvalhos, sobreiros e castanheiros), pelo pinhal e, posteriormente pelo eucaliptal (futuro da celulose).
2. «Na vida rural: despovoamento, abandono dos socalcos e dos locais de habitação menos acessíveis; alguma mecanização, causadora do êxodo rural; decadência do olival e do montado, trocados por pomares e cerejais; para o eucaliptal arroteiam-se os terrenos menos acessíveis; aparecimento das “casas de franceses”.

A sobrevivência desta antiga vila, parece – aos olhos de alguns dos seus residentes – cada vez mais ameaçada devido ao facto conjugado das práticas agrícolas tradicionais terem entrado em colapso, assim como a estrada N18, que a atravessava, estar a ser substituída por uma via rápida (IP2) que passará ao largo – tanto nesta como noutras freguesias rurais da região – com prejuízo para algum pequeno comércio, restaurantes de pouca qualidade e outros serviços banalizados, que teimam em subsistir sem se adaptarem ás novas exigências do consumo moderno.
Devido a carências de mão-de-obra qualificada, facto este agravado pelos fluxos migratórios em direcção ao litoral, também não atrai projectos industriais de outras regiões. Com a integração económica, a abolição das restrições ao comércio e à mobilidade dos factores de produção – capital e trabalho – e à atracção que as economias de aglomeração exercem, este tipo de economias rurais tem alta probabilidade de soçobrarem completamente, caso não saibam tirar partido dos valores e do potencial que as individualizam .
Esta antiga vila e o seu espaço envolvente , possui um apreciável conjunto patrimonial edificado e natural, assim como raras espécies botânicas uma das quais exclusiva da Serra da Gardunha, a Asphodelus bento-rainhae (P. Silva, 1956), só por si justifica a criação e existência de uma reserva botânica para preservar a biodiversidade desta região. Realçamos, ainda, o seu ar puríssimo, fontes termais de águas sulfurosa desaproveitadas, favoráveis condições climatéricas devido ao facto de estar protegida pelos ventos do norte, e um envolvimento paisagístico outrora de incontestável beleza natural mas em constante degradação.
Todos estes factores, permitem-lhe algumas possibilidades de revitalização em termos de desenvolvimento turístico baseada nesta tripla mais valia: património, clima e paisagem envolvente.
Acresce a estas três vertentes, estar no centro geográfico e a curta distância de toda uma zona patrimonial e turística importante, podendo servir de “sala de visitas” a toda esta citada região do interior, servida de um bom eixo rodoviário que brevemente ligará Castelo Branco à Guarda, junto à aldeia histórica de Castelo Novo, e a curta distância de outros concelhos não menos característicos como os de Belmonte (com as ruínas de Centum Cellas), Sabugal (com Sortelha), Penamacor (com a reserva da Serra da Malcata), Idanha-a-Nova (com Monsanto e Idanha-a-Velha), centros de interesse patrimonial desta região, todos a curta distância de Serra da Estrela, o grande polo de interesse turístico da região.

OBJECTIVOS
Alpedrinha está integrada numa ampla região da qual fazem parte muitas aldeias com valioso património, as quais poderão, em conjunto, constituir um interessante e apelativo roteiro museológico.
Esta vila, depauperada pela crise agrícola e industrial que atravessa, não foi ainda grandemente danificada no seu núcleo histórico, à semelhança do que aconteceu noutros casos de desenvolvimento anárquico processado junto ao litoral.
Constata-se, alguns processos pontuais de descaracterização a partir da reconstrução de alguns imóveis degradados, com acrescentamento de pisos e varandas corridas a todo o comprimento da fachada, revestimentos de azulejo estampado e caixilharia de alumínio. Para contrariar estas tendências que se começam a esboçar basta a criação de regulamentos municipais com vista a projectos de alterações específicos para esta érea, tendo em vista a criação de normas, com alguma flexibilidade e de carácter predominantemente pedagógico e informativo.
A todas estas potencialidades que vamos constatar, acrescente-se a proximidade geográfica com Espanha, de onde pode canalizar alguns benefícios devido à melhoria das vias de acesso e à inexistência de fronteiras.
Para esse efeito urge realizar um laborioso trabalho, a médio e a longo prazo, capaz de paulatinamente ir colmatando a insuficiências infra-estruturais, tanto da citada localidade como das que lhe são contíguas, nesta espécie de ecossistema natural formado pela citada serra com todo o seu património paisagístico, que deve ser reactivado numa perspectiva museal e de lazer.
Um dos objectivos desta análise, será a proposta de algumas linhas de força conducentes ao desenvolvimento de actividades culturais, capazes de dinamizar a vida económica e social, fixar a sua população de uma maneira atractiva e sem custos ambientais para o futuro: actividades ligadas aos recursos da floresta, turísticas e de lazer, artesanais, ocupação de tempos livres, projectos virados ao termalismo e à terceira idade que aqui encontrará, caso sejam criadas condições, um lugar de vilegiatura excepcional.


Este trabalho é o projecto de um sonho que esperamos ser possível realizar, até porque nas nossas últimas incursões e contactos termos constatado ser um tema querido a grande parte das pessoas que abordamos.
Permitam-nos, portanto, a visão de uma utopia de hoje – realidade de amanhã (?) – o ECOMUSEU DA SERRA DA GARDUNHA / COVA DA BEIRA , museu de território, alicerçado na valorização das identidades e no desenvolvimento local. Para sua sede propomos o que foi um dos maiores pólos culturais do concelho do Fundão: a freguesia de ALPEDRINHA, à qual a sensível e inteligente Marquesa de Alorna, chamou “SINTRA DA BEIRA” .
Os perigos da massificação tornam imperiosa a salvaguarda de todo este património, afirmando a identidade, como factor de desenvolvimento integrado e sustentado.
Para isso é necessário evitar a sua transformação em vila-dormitório, em relação à sede de concelho que dela dista cerca de dez quilómetros.
Impõe-se atrair habitantes de nível etário mais baixo, para alem da época estival, que aí encontrem postos de trabalho e habitem em permanência, coexistindo em agradável equilíbrio com os grupos etários mais idosos que actualmente predominam.
Tirando partido da amenidade do clima quer durante o verão, quer de inverno, e a soberba paisagem de que desfrutam alguns dos seus espaços públicos, deverão ser incentivadas as actividades de restauração e explanadas ao ar livre, abertas à convivialidade dos residentes e visitantes. Ao contrário de algumas das actualmente existentes estas devem procurar sítios afastados dos principais e movimentados itinerários de atravessamento do seu espaço urbano. Para isso é necessário, ao contrário do que actualmente acontece, segregar a circulação de peões e veículos, descobrir pequenos espaços públicos para ajardinar, criar centros de convívio e de comércio.
A sua estrutura económica e agrícola, em decadência desde finais dos anos 70, deverá ser substituída, se quiser sobreviver, por actividades de hotelaria, turismo rural, turismo de habitação, actividades de lazer e culturais, criação de pequenas industrias artesanais, que não agindo negativamente sobre o meio ambiente possam criar condições de agradável habitabilidade para todos.

METODOLOGIA
Para a sua revitalização é imprescindível um laborioso e multidisciplinar trabalho de campo, no domínio de vários ramos do saber, para um criterioso e sistemático levantamento do seu património em todas as suas vertentes com vista a dinamizar o seu desenvolvimento.
Partindo da inventariação e avaliação dos recursos encontrados em termos patrimoniais, e em conjugação com toda a zona da Serra da Gardunha e Cova da Beira, apresentaremos algumas sugestões para um desenvolvimento futuro que tenha em vista a fixação da sua população.
Este desenvolvimento, sustentado e humano , deve respeitar os valores tradicionais, apontando soluções para a sua recuperação da vila, indo ao encontro das aspirações da sua população. Deve, ainda, tomar em conta, ao contrário do desenvolvimento desordenado, o total respeito por todas as suas tradições genuínas, pelos seus valores paisagísticos envolventes e pela arquitectura tradicional, visando o seu desenvolvimento e reanimação em conjugação com outros projectos regionais satisfazendo as aspirações das populações e apoiando-se em diversas organizações e instituições locais que possam e estejam interessadas no projecto.
A partir das potencialidades que forem encontradas, em termos patrimoniais e respeitando os valores tradicionais, deve-se apontar soluções que possibilitem a recuperação do seu património com novas funcionalidades. Tudo isto, para uma fixação da sua população, a qual com o declínio de empregos no sector primário, principal sector produtivo deste concelho, regra geral demanda as grandes cidades do litoral, deixando esta terra numa letargia profunda.
Toda esta reactivação deve ser feita em conjugação com toda a zona da Cova da Beira e da Beira Interior, assim como da zona mais ampla da Estremadura Espanhola, que lhe é contígua e começa a mostrar apetência por projectos integradores a nível transfronteiriço, como vai sucedendo entre Idanha-a-Nova / Alcântara (Esp.).
Apesar de termos a noção de que um trabalho desta natureza será sempre muito limitado, devido ao facto da falta da multidisciplinaridade requerida e necessária para um trabalho desta amplitude, resolvemos deitar mãos à obra.
Vamos, conscientes das limitações, tentar vislumbrar alguns pontos de partida que lancem algumas pistas válidas para um futuro desenvolvimento desta localidade.
Caso as soluções apontadas para Alpedrinha, possam a vir ser ensaiadas, delas devem extrair-se conclusões com possíveis adaptações a ser generalizadas a outras aldeias da serra da Gardunha que enfrentam idênticos problemas e atravessam um processo de perda de população, quer para as grandes cidades do litoral, quer para alguns centros aglutinadores da região.


Vamos partir da pesquisa bibliográfica e de campo, inventariação genérica do seu principal património para dele tirar partido, no sentido deste contribuir para o desenvolvimento e fixação da sua população, nomeadamente através de actividades relacionadas com o turismo.
A perspectiva que vamos adoptar, visa um levantamento sumário das principais formas de património local sem perder de vista o meio-envolvente natural, actualmente bastante modificado em função de um desenvolvimento económico que não tem respeitado os valores herdados, as necessidades futuras e os desejos da população ou das suas elites. Estas últimas, assim como algumas associações locais, têm demonstrado algum poder de dinamização e de combate contra as grandes ameaças que põem por vezes em causa a qualidade de vida que ainda desfruta esta população.
A última acção colectiva pela preservação do património local, foi a luta titânica desenvolvida pela sua população, há bem poucos anos, enquadrada por alguns dos seus destacados elementos, entre os quais sobressaiu o então estudante de arquitectura, actual arquitecto Pedro Pestana Boavida.
Estes elementos, por todos os meios ao seu alcance, através da imprensa regional e nacional, com exposições e pressões junto das autoridades envolvidas, tentaram modificar o traçado da actual via rápida (IP”) e respectivo túnel de atravessamento da Gardunha, desviando-o se possível para a base da serra, passando ao largo de Alpedrinha, minimizando assim o impacte ambiental desta via sobre a citada vila.
As autoridades centrais, por diversos motivos que não ficaram completamente esclarecidos, não abdicaram do seu traçado inicial mas alteraram ligeiramente o projecto inicial.
Esta luta, não isenta de paixões, dividiu a população em opiniões por vezes contraditórias e, no meio de muitas discussões públicas, havia quem teorizasse e profetizasse que o desvio da estrada era a certidão de óbito desta freguesia. Esta visão catastrófica partia, segundo cremos, de um possível erro de avaliação, pois, o desvio do intenso trânsito vem beneficiar a qualidade de vida desta pequena vila rural.
Este desvio só afectará uma pequeníssima franja da população, vivendo de pequenos café e similares, actividade local que tem tido dificuldades em adaptar-se ás novas exigências de qualidade e do conforto, os quais soçobrarão de qualquer maneira, caso não vençam a inércia e não se adaptem às exigências de uma clientela cada vez mais exigente.
Estamos em crer que, bem pelo contrário, assim esta população saiba conjugar esforços, tem mais a ganhar com o desvio do trânsito do seu interior, dando-lhe melhores condições para o exercício de várias actividade turística, tirando partido do seu património e de melhores condições ambientais que este desvio proporciona.
Para esse efeito, iremos ainda tentar, alem da inventariação ainda que superficial, do património edificado, talvez o mais significativo, fazer um levantamento de todos os possíveis recursos, assim como das actividades artesanais que poderão, por si sós, constituírem importantes motores do desenvolvimento e, ao mesmo tempo, contribuírem para uma constante atracção turística de passantes e de fixação da população local em pequenos projectos de auto-subsistência.

DESENVOLVIMENTO

SITUAÇÃO
Situada a meia encosta Sul da Serra da Gardunha, a 550 metros de altitude, virada a Nascente, protegida dos ventos frios do norte e do poente, tem uma situação privilegiada em relação ao clima predominante nesta região e está próxima do novo eixo viário (IP2) que une as duas sedes de distrito: Castelo Branco e a Guarda. É servida pelo caminho de ferro.
Está rodeada de tufos de arvoredo, sobreiros, oliveiras, vinhas e pomares.
Pertence ao concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, diocese da Guarda.
Da vila e dos seus acessos tem-se uma ampla e bela vista panorâmica sobre toda a campina da Idanha, vendo-se, sobranceiro, junto à Raia, o cerro de Monsanto.
Com a nova estrada, em conclusão – à qual só tem acesso por Castelo Novo ou pelo Fundão – vai beneficiar de acessos mais rápidos em relação aos grandes centros.
Ainda que não melhore a acessibilidade em relação á actual sede de concelho, cuja ligação vai continuar a ser feita pela estrada antiga, vai-lhe tirar todo o grande tráfego do interior, criando condições para que, tirando partido da beleza natural do lugar, possa constituir atractivo para um turismo rural de qualidade.

ACESSIBILIDADES
Dista por estrada cerca de 250 km de Lisboa, 30 km de Castelo Branco (capital do Distrito, com um polo universitário), 30 km da Covilhã (cidade com aeródromo e universidade), 70 km da Guarda. A sede de concelho, o Fundão, fica a cerca de 10 km. É servida por caminho de ferro.
Centro geográfico de várias zonas de interesse turístico da Beira Interior. Fica no triângulo turístico constituído por Monfortinho (termas), Sortelha e Castelo Novo.

POPULAÇÃO
Aguns dados conhecidos sobre a evolução da sua população :
• 1708 …… 450 fogos
• 1755 …… 365 fogos
• 1786 …… 329 fogos.
• 1813 …… 300 fogos
• 1862 …… 420 fogos
• 1890 …… 446 fogos

No referendo sobre a regionalização (1998), tinha 1.038 eleitores inscritos. Destes só exerceram o seu dever cívico 456, uma das mais baixas taxas de participação eleitoral de todo o concelho.

A Cova da Beira tem, segundo os dados dos Censos de 1991:
• População activa: 40 %
• Sector primário: 12 %
• Sector Secundário: 47 %

Com a derrocada das actividades agrícolas tradicionais, muitos dos seus habitantes demandaram os grandes centros, nas últimas décadas.

ACTIVIDADES
Devido à pequena dimensão da propriedade agrícola, apesar das favoráveis condições climatéricas e da abundância de água, passou por grandes dificuldades que lhe inviabilizaram o salto qualitativo para a mecanização em larga escala. O seu microclima, actualmente, apenas permite uma agricultura rentável em algumas médias propriedades.
No passado, devido a uma mão-de-obra abundante e barata, esta zona tornou-se famosa por alguns produtos agrícolas. Destes distinguiam-se, pela sua qualidade, a sua magnífica azeitona que produzia um azeite muito fino – cuja acidez andava em muitos casos à volta de 0,5 graus –, assim como o vinho, as frutas e os queijos.
Hoje, porem, poucas actividades agrícolas são minimamente rentáveis. Delas, a principal, é a produção de cerejeira, com algumas variedades de apreciável valor comercial, sem grande concorrência no resto do país. A outra é a floresta, ou o que dela resta, com todos os seus subprodutos. Esta ultima actividade, caso venha a ser integrada numa gestão mais ou menos correcta do património paisagístico, pode render maiores benefícios para as populações, quer em termos de ajudar a criar um melhor ambiente, quer em termos de gerar novas actividades e postos de trabalho, incorporando algum valor acrescentado de tipo artesanal, junto à produção, tudo isto feito sem custos ambientais.
O aproveitamento da floresta e dos seus produtos deve privilegiar o mercado local e regional, assim como os benefícios turísticos, garantindo a sua reposição.
O pequeno comércio e serviços de restauração de pouca qualidade, ainda não apostaram na gastronomia e nos produtos tradicionais, cuja excelente qualidade sempre foi muito apreciada. Curiosamente, é por vezes mais fácil, encontrar os produtos agro-industria local – enchidos, queijos, e diversos outros produtos obtidos segundo os princípios de uma agricultura biológica –, nos grandes e distantes centros de consumo urbano do que junto à produção local, por dificuldade de organização da distribuição e algum individualismo, contrário ao associativismo.

HISTÓRIA
Habitada desde os tempos mais remotos, no seu termo aparecem vestígios que remontam ao Eneolítico , como nos sítio dos Nogueirões e dos Madorros. No Carvalhal Redondo ou Monte da Velha, na periferia da vila, houve um castro que mais tarde foi romanizado, o qual no princípio do século XIX mereceu a visita do professor Leite de Vasconcelos.
Era, segundo vários especialistas, a PETRATÍNIA dos romanos, época da qual aparecem muitos vestígios arqueológicos quando se revolvem os campos anexos por motivos agrícolas ou de obras. Passou para o domínio dos árabes, que aqui exerceram a sua influência e lhe modificaram o nome para ALPEDRINHA. Mais recentemente o prof. Jorge de Alarcão, embora com algumas reservas, presumiu situar-se por aqui VICUS TALABARA, que se supunha mais a norte, junto à freguesia da Capinha.
Estas teses, por falta de escavações arqueológicas, carecem de fundamento. De certezas absolutas, sobre o seu nome no passado, apenas temos alguns documentos medievais, a saber :
• Códice 151 da B.N.L., fl. 60-63 (Divisão das Igrejas e diocese da Guarda em 1260) – No item 105 aparece mencionada a “ALPEADINA”, sem dúvida a nossa Alpedrinha [o “P” apresenta-se com um til].
• Códice 736 da B.N.L., fl.204 (Carta de doação de Alpedrinha e seu termo à ordem do templo, de 13 de maio de 1266) – Neste documento os donatários D. Diogo Lopes e sua mulher D. Urraca Afonso, autorgam ao Mestre do Templo, para todo o sempre, ALPADIA [o “P” apresenta-se com um til].
• Códice 179 da B.N.L. (Cathalogo, de todas as egrejas, 1320-21) – Neste documento cita depois de Castelo Novo, entre vários templos o de S.ta Maria de Alpedrinha.

Ora, afigura-se aos filólogos, ser pouco provável que o topónimo citado derive de petra (pedra), ou do adjectivo petrinea (feminino de petrineus), e muito menos de Petratinea. Talvez derive de ALPREADE e ALPREADINHA, nomes antigos de pequenas ribeiras que lhe passam perto, as quais já vêm citadas por Fr. Agostinho de Santa Maria no Sanctuario Mariano (Lisboa, 1711, L. III, Tít. XVII).
Recebeu foral em Maio de 1202 .
Foi elevada a sede de concelho eme 1675, por alvará do príncipe regente D. Pedro (futuro D. Pedro II). Em 1855, perdeu a sede de concelho para a cidade do Fundão.
Para o seu declínio contribuiu a guerra civil entre os partidários de D. Miguel e D. Pedro, factor este que levou á ruína várias famílias que acabariam por abandonar a vila.
Foi uma vila mártir durante as invasões francesas, nomeadamente em 5 de Julho de 1808. Nesta data, em represália por alguma resistência que esta vila ofereceu, as suas casas e capelas, firam saqueadas e incendiadas e os habitantes que não conseguiram fugir, foram mortos pelas tropas do general Loison.

FESTAS TRADICIONAIS
Habitada por uma população de grande religiosidade, o que é atestado por inúmeras capelas muitas dela particulares, manifestou ao longo dos tempos grande apego às festas religiosas.
Muitas destas festas tradicionais caíram em desuso, apenas subsistindo com algum relevo: em Janeiro, a festa de S. Sebastião, junto à capela alpendrada com o mesmo nome, sobranceira ao Palácio do Picadeiro; na Quaresma, a grande Procissão dos Passos, que a Misericórdia continua a levar a cabo.
Foi famosa, outrora, a procissão de velas que se realizava na Semana Santa, outrora famosa e hoje sem grande expressão.
Outra festa religiosa de cariz mais popular, é a concorrida romaria do Anjo da Guarda, durante muito tempo realizada no 3.º domingo de Julho, e actualmente ao arrepio da tradição secular, transferida para o 3.º domingo de Agosto, para se acomodar aos interesses dos emigrantes sem colidir com outras romarias de grande devoção nesta região.

PATRIMÓNIO EDIFICADO
Esta terra possui um apreciável conjunto patrimonial edificado, ar puríssimo, potencial termal desaproveitado, assim como um envolvimento paisagístico de incontestável beleza natural, que lhe permite algumas possibilidades de revitalização baseada no património, no clima e na paisagem natural envolvente.
Para esse efeito urge um laborioso trabalho, a médio e a longo prazo, capaz de paulatinamente ir colmatando a insuficiências infra-estruturais, tanto da citada localidade como das que lhe são contíguas, nesta espécie de ecossistema natural formado pela citada serra com todo o seu património paisagístico, que deve ser reactivado numa perspectiva de lazer.
Devemos pois, delinear um planeamento ainda que sumário, constituído por um conjunto de acções programadas no tempo e numa sequência lógica, no quadro das políticas patrimoniais delineados a nível nacional e visando, no caso em apreço, a revitalização desta vila com a sua envolvente paisagística, assim como, partir do seu exemplo, para dinamizar toda uma região natural delimitada pelas suas actuais fronteiras administrativas: as do concelho do Fundão.
Planta de Alpedrinha.
Para esse efeito podemos contar com alguns elementos prestigiados das elites locais: políticos, profissionais liberais, artistas e intelectuais, assim como elementos do mundo empresarial, os quais não desprezando boas oportunidades de negócios e de lucros, manifestam preocupações culturais e, todos eles são úteis e capazes de moverem vontades e catalisarem a opinião pública local.
Na impossibilidade de mencionarmos todo o imenso património edificado, quer rústico quer urbano, apenas vamos aqui referir alguns dos exemplos mais emblemáticos da vila, os quais fazem parte do imaginário desta pequena colectividade.

CASA DA CÂMARA / ANTIGOS PAÇOS DO CONCELHO
Alpedrinha,
Casa da Câmara.
Edificado no quarto quartel do século XVII, para servir de Paços de Concelho, ostenta no alto da fachada um escudo com as armas nacionais e a data de 1680, ano em que foi concluído o edifício, cinco anos depois de Alpedrinha ter sido elevada a vila.
Constituída por três pisos em de cantaria, dois andares e rés-do-chão, tem cada andar vários vãos com varandas salientes e grades de ferro.
Diversas salas no interior, com o aparelho de pedra regular e à vista, apresentam monumentais lareiras a toda a altura da parede.
É sede da actual Junta de Freguesia, assim como da Liga dos Amigos de Alpedrinha, com as suas diversas actividades culturais, da qual faz parte o Museu da Liga, com objectivos etnográficos, dispostos ao longo de três salas.





PALÁCIO DO PICADEIRO / PALÁCIO DOS SARAFANAS
Alpedrinha, Palácio do Picadeiro.
Alpedrinha, Palácio do Picadeiro.
















De tipologia barroca, foi mandado construir nos finais do século XVIII por Francisco Lopes Sarafana Correia da Silva (1738-1803). A obra foi executada pelo mestre Carlos Caetano Correia de Castro, artista de mérito natural do Minho.
Tem a fachada principal, virada a poente, dando para um grande pátio quadrado, outrora ajardinado, do qual o palácio tirou o nome de Picadeiro. Os muros tem vários elementos decorativos de pedra lavrada, dos quais muitos já desapareceram devido ao abandono a que tem estado votado.
Foi edificado com dois andares e lojas, sobre uma casa anterior que pertenceu à Companhia de Jesus, da qual ainda existem vestígios em diversas paredes adossadas ás traseiras do palácio. Só se concluiu metade do projecto inicial, pois é conhecida a planta original na posse da família Silva Sampaio, de Castelo Novo.
Actualmente encontra-se arruinado e foi adquirido pela Câmara Municipal do Fundão que o cedeu pelo prazo de vinte anos à Junta de Freguesia de Alpedrinha, com o fim de ser recuperado e destinado a fins culturais da Liga dos Amigos de Alpedrinha.
O acesso do primeiro para o segundo andar é feito, por escadas que correm no interior das paredes, tal a sua espessura e solidez.
Ostenta uma pedra de armas esquartelada de: 1.º - Correia; 2.º - Silva; 3.º - Vieira (?); 4.º - Sampaio.
Este solar pertenceu à família que deu vários Capitães-mores das Ordenanças da vila, em períodos conturbados como foram os da Guerra da Restauração.

O seu edificador foi FRANCISCO LOPES SARAFANA CORREIA DA SILVA (1738-1803), Familiar do Santo Ofício (Carta de 29-VIII-1769), Juiz de Fora no Alhandroal e na Guarda, provedor da antiga comarca de Viana do Minho em 1798, senhor de vários morgados em Alpedrinha, na contígua freguesia de Vale de Prazeres, assim como em Idanha-a-Nova. Casou com D. Ana Luísa de Albuquerque da Silva Freire de Serpa, natural da contígua freguesia de Castelo Novo, filha de Diogo José Freire de Serpa da Silva, natural da Covilhã, Capitão-mor das Ordenanças da vila de Alpedrinha, e de sua mulher e prima D. Catarina Botelho de Albuquerque. Era filho de ANTÓNIO MANUEL CORREIA DA SILVA SAMPAIO, filho 2.º que veio a ser herdeiro, proprietário, casado a 14-IV-1735 com sua parente em 3.º e 4.º grau, D. Maria Rita Freire Sarafana; neto-paterno de FRANCISCO LOPES SARAFANA, Familiar do Santo Ofício (Carta de 11-VIII-1692), Capitão-mor das Ordenanças da vila de Alpedrinha, casado em ?-II-1678 com D. Maria Luísa Sarmento, natural de Alpedrinha.
Ao edificador da casa sucedeu-lhe o filho, com o mesmo nome do avô, ANTÓNIO MANUEL CORREIA DA SILVA SAMPAIO, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real (Alvará de 19-XI-1823), Comendador da Ordem de Cristo, Coronel agregado do Regimento de Milícias de Idanha-a-Nova, abastado proprietário do distrito de Castelo Branco, casado com D. Maria Joana de Figueiredo da Costa Souto Maior, natural da freguesia de escalos de Cima, no concelho de Castelo Branco.
Sucedeu na posse da casa o neto do edificador que foi FRANCISCO CORREIA DA SILVA SAMPAIO, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, grande proprietário nas freguesias de Escalos de Baixo e do Fundão, ambas no distrito de Castelo Branco, casado com D. Maria Leonor de Melo Castro e Sousa (1833-1855), neta dos 2.º Marquês de Olhão, 2.º Conde de Castro Marim.
A um bisneto do fundador do palácio, filho dos anteriores, ANTÓNIO MANUEL CORREIA DA SILVA SAMPAIO (1809-?), foi-lhe concedido o título de 1.º Visconde de Castelo Novo, freguesia contígua a Alpedrinha.

SOLAR DOS BRITOS / CASA DO PÁTIO
Solar da notável família que lhe deu o nome, situada no cimo da Rua dos Britos, é também conhecido por Casa do Pátio, devido ao terreno contíguo todo murado que lhe ocupa a frontaria.
Alpedrinha, Solar dos Britos.
É um casarão amplo com lojas e dois andares, dispostos ao longo de três corpos, dos quais o do meio é o menor. Actualmente encontra-se meio arruinado e serve de morada a várias famílias.
No cimo do corpo central ostentou em tempos as armas dos Britos, até que um dos últimos representantes desta família vendeu o solar e retirou a pedra de armas, a qual fez transportar para uma quinta de família em Tomar .
Segundo a tradição oral, a casa e o respectivo pátio eram privilegiados e isentados da justiça real. No portão que dá acesso ao pátio, existia uma argola de ferro a que qualquer podia deitar a mão, ficando deste modo isento da prisão. Esta história, comum a várias casas das Beiras, transmite-nos, simbolicamente, o grande poder e prestigio das famílias que em tempos passados as habitavam.
Alpedrinha,
Pátio do Solar dos Britos
Esta casa parece ter sido da família de DOMINGOS NUNES HOMEM DE BRITO, familiar do Santo Ofício, senhor do morgado de Valverdinho, na Covilhã, onde casou com MARIA FRANCISCA MENDES, filha de António Francisco Mendes e de Inês Alvares.
Foram seu filhos: 
1.º - MANUEL HOMEM DE BRITO, Cavaleiro da Ordem de Cristo, senhor e padroeiro de Valverdinho, casado com sua sobrinha D. Teresa Pereira Coutinho. Sua mulher era filha de José Pereira Coutinho, fidalgo da Casa Real, casado na Covilhã com D. Maria Branca Robalo .
2.º - JOSÉ HOMEM DE BRITO, casado com D. Maria Correia de Castelo Branco, a qual foi senhora do grande prazo de S. Amaro no termo da vila de Sortelha,
3.º - D. MARIA DE BRITO, casada com António da Silva Serpe, filho de Diogo Serpe da Silva, fidalgo, e de sua mulher Maria da Cunha. Seu marido era neto paterno de Jorge de Serpe, fidalgo da Casa Real, e de D. Ana da Silva (filha de Jorge da Silva, e sobrinha de D. Diogo Gomes da Silva, primeiro Inquisidor-mor e Arcebispo de Braga ). A sua descendência usou o apelido grafado de Serpe ou Serpa.
Um bisneto de D. Maria de Brito e de seu marido António da Silva Serpe, com o nome de DIOGO JOSÉ FREIRE CORTE REAL DA SILVA SERPE, natural da Covilhã, capitão-mor de Alpedrinha, casou duas vezes: a 1.ª com sua prima D. INÊS DA SILVA PEREIRA, s. g.; a 2.ª vez com sua prima D. CATARINA DE SOUSA BOTELHO DE ALBUQUERQUE, filha herdeira de António de Sousa Botelho, da Guarda, e de D. Ana Luísa de Albuquerque e Maldonado, da então vila de Alpedrinha, conc. do Fundão, c.g. Deste 2.º casamento nasceu D. ANA LUÍSA DE ALBUQUERQUE DA SILVA FREIRE DE SERPE, natural da freg. de Castelo Novo, conc. do Fundão, senhora de vários morgados entre os quais o grande prazo de Corgues, casada com FRANCISCO LOPES SARAFANA CORREIA DA SILVA, que já vimos ser o edificador do Palácio do Picadeiro.
Foi este casamento, com numerosa geração, que uniu a Casa dos Britos / Casa do Pátio à Casa dos Correias Sarafanas / Palácio do Picadeiro. A decadência de ambas deve-se à extinção dos morgadios, assim como à numerosa descendência que fragmentou muito o património destas casas.

CASA DA COMENDA
Alpedrinha, Casa da Comenda.
De fundação muito antiga, é constituída por duas alas rectangulares, a principal virada a norte, e outra virada a poente. Situada na Rua da Igreja, numa das partes mais altas do perímetro urbano da vila.
Está cercada por jardins, protegidos por muros com ameias e guaritas. Há quem afirme estar implantada no local do seu primitivo castelo.
Apresenta um ar de fortaleza feudal, configuração que lhe foi dada por sucessivas obras. O seu aparelho de cantaria destaca-se pela sua regularidade e imponência.

Pertenceu com toda a probabilidade ao comendador de Alpedrinha, D. João de Mascarenhas, 3.º conde do Sabugal por casamento com D. Brites de Menezes, cujo pai acompanhou D. Sebastião na jornada de África, onde ficou cativo em Alcácer. Meirinho-mor do reino, general de Cavalaria, na Guerra da Restauração, era comendador de Alpedrinha na Ordem de Cristo e, por este facto, a casa passou a ser conhecida por Casa da Comenda. Esta comenda rendia 40.000 réis em 1758, competindo-lhe a apresentação – proposta de nomeação – do pároco.

Alpedrinha,
 Casa da Comenda.
Apetrechada com todos os confortos da vida moderna dedica-se ao turismo de habitação.
Esta casa passaria, em 1685 para D. Luís de Ataíde, 8.º conde de Antouguia, genro do anterior, e para os seus sucessores. O último proprietário foi D. Jerónimo de Carvalho Menezes e Ataíde, 11º conde de Antouguia (?-1759), o qual foi executado a 1-I-1759, juntamente com os Távoras, acusado de cumplicidade no atentado contra o rei D. José. A casa tinha sido vendida cerca de um ano antes deste atentado a Fr. Maurício da Costa Castelo Branco. Este frade deixou-a em testamento a suas irmãs, as quais a venderam a D. Maria Bárbara de Melo e Castro. Desta família passou por venda, no fim do século XVIII, para a família do Deão da Sé de Lisboa, Dr. António José Boavida, que lhe fez vários melhoramentos.



CASA DAS SENHORAS MENDES / CASA DOS PANCAS
Como a própria tradição oral menciona, foi neste lugar que o ricos Senhores de Pancas, levantaram o seu palácio na vila, mesmo ao lado da capela de Santa Catarina que instituíram. O antiga Casa dos Pancas foi substituída pelo actual edifício, datado de 1859.
Tem um rés do chão e mais dois pisos, os quais apresentam cinco vãos com varandas guarnecidas por guardas em ferro forjado.
Em 1967 foi comprada pela Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha, instituição que aí instalou uma creche.

 CASA DO CARDEAL

Alpedrinha, Casa da Família do Cardeal.


Alpedrinha,
Casa da Família do Cardeal.
















Já bastante alterada, porem é de grande austeridade a sua fachada e revela grande antiguidade. A sua fundação é atribuída ao Cardeal, que a terá mandado edificar sobre a primitiva casa dos seus pais (?). Apenas se confirma ter pertencido aos seus parentes.
A entrada era para ser em balcão que dava acesso ao primeiro andar, como se depreende pelo aparelho da cantaria menos apurada, a esse nível.
Ostenta uma pedra de armas por cima de uma janela, cujo brasão é igual ao da Capela do Menino Deus Escudo cortado, tendo no 1.º a roda das navalhas, alusivas ao martírio de Santa Catarina (que eram as armas do Cardeal de Alpedrinha); o 2.º do cortado é partido; o primeiro de Costas, e o segundo de Cunhas; ao centro tem uma espada de cima a baixo; por timbre tem as insígnias de um eclesiástico, formadas pelo chapéu e três ordens de borlas.

Alpedrinha, Casa do Barreiro.

CASA DO BARREIRO
Edificada pelo Dr. João Cabral de Castro, foi encomendada ao arquitecto Ernest Korrodi (1870-1944).
Esta excelente casa, no Largo das Escola, já na periferia do perímetro urbano, integra-se numa ampla quinta.
Dedica-se ao turismo de habitação.


CASA DA “SENHORA DO ROSÁRIO
Situada na Rua do Leão, mesmo de fronte do Casa das Senhoras Mendes / Casa dos Pancas, este singular caso não passa desapercebido. Tira o nome de Senhora do Rosário do facto de ter um nicho junto ao telhado com uma imagem desta Santa que durante a noite está sempre alumiada por uma lanterna de azeite. Tem ainda uma janela Manuelina, outrora geminada.
Conta-se que esta casa em tempos remotos foi deixada em testamento, por um padre, o qual deixou também o encargo de alumiar o nicho com a Senhora do Rosário: para esse efeito deixou um olival, do qual se devia tirar o azeite para o citado fim.

IGREJA MATRIZ
Alpedrinha, Igreja Matriz.
De traça românica, começou a ser executada por volta do reinado de D. Sebastião (1557-1578), resultante de uma pequena e primitiva igreja que já haveria no local. Prolongou-se a sua construção por mais um ou dois séculos, tendo a configuração actual sido dada por volta do século XVI.
É toda feita em cantaria, com três naves e um baptistério. O acesso ao interior é feito pelo portal principal, a Nascente, lavrado em granito fino, e dois laterais, um virado a Norte e outro a Sul. Tem duas torres, uma das quais só foi concluída no século XIX.

O seu orago é de São Martinho Bispo. O pároco era da Ordem de Cristo e a sua apresentação feita pelo comendador dela, o conde de Povolide .
No seu interior sete altares, nos quais predominam a talha dourada e as colunas torsas:
• Altar-mor com um retábulo onde figuram: São Martinho, São Pedro e São Paulo, São Bartolomeu, São Francisco Xavier e Santa Barbara.
• Dois colaterais: o Dt.º é da Sr.ª do Rosário e tem um retábulo e uma imagem da Santa; o Esq.º tem um retábulo de Cristo Crucificado, e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
• Quatro laterais. Lado Dir.: 1.º Lateral de Santa Rita; 2.º Lateral de Sr.ª dos Altos Céus. Lado Esqº.: 1.º Lateral de St.ª Ana; 2.º Lateral de S. João Baptista. Em cada um destes altares laterais está instituído um morgado ou capela.
Tem um magnífico Órgão de Tubos do século XVIII, oferecido por Fr. Maurício, o mesmo que comprou a Casa da Comenda. No seu interior guarda valiosas peças que escaparam ao latrocínio dos invasores franceses e constituem o Museu de Arte Sacra, belíssimas peças de ourivesaria, nomeadamente panejamentos do reinado de D. Sebastião, assim como um Ecce Homo do século XVII A falta de segurança não permite a actual exposição do seu rico espólio.


IGREJA DA MISERICÓRDIA
Fundada, segundo parece, no princípio do século XVII, apresenta uma frontaria de linhas elegantíssimas com um nicho que alberga a imagem de Nossa Senhora do Socorro.
Implantada num outeiro sobranceiro à estada que atravessa a vila. Tem uma só nave e três altares de talha dourada, com várias imagens e quadros:
• O altar principal tem uma bela imagem de Nossa Senhora da Misericórdia.
• Dois colaterais: o do Lado Dtº tem uma imagem de S. Francisco recebendo as chagas.
No passado, chegou a estar em completa ruína.

Alpedrinha,
Capela de Santa Catarina.
CAPELA DE SANTA CATARINA / CAPELA DO LEÃO
A capela privada mais emblemática de Alpedrinha, datada dos princípios do século XVI, foi consagrada a Santa Catarina, à qual a família do Cardeal de Alpedrinha nutria grande devoção. A sua tipologia é tardo-gótica e renascentista.
O população apelidou-a de Capela do Leão, nome tirado de uma fonte contígua que parece representar um destes animais. Foi durante séculos o panteão dos Costas de Alpedrinha, cujas sepulturas com os respectivos epitáfios, enchem o chão desta capela .
Implantada em plataforma plana, com calçada á portuguesa. Está adossada ao solar dos Morgados de Pancas.
A planta longitudinal é composta por uma nave rectangular e uma capela-mor de planta quadrada, com um altar em mármore cor-de-rosa. A cobertura é de duas águas.
O interior, de uma só nave, paredes guarnecidas de azulejos enxaquetados de branco e verde, ao longo das quais correm bancos de pedra.
O pavimento é lajeado e cheio de pedras tumulares da família fundadora, que são os COSTAS, do Cardeal de Alpedrinha, do ramo dos morgados de Pancas .
A estrutura da capela é nitidamente gótica. O magnífico portal é de puro estilo Renascença, em granito escuro e duro da região, ao estilo do mestre francês Nicolau Chanterene . Presume-se que se não foi ele o executor da capela, pelo menos foi o delineador do projecto, devido às analogias estilísticas com obras que sabemos serem da sua autoria.
Este portal é em arco pleno com moldura almofadada, ladeado por pilastras lavradas, com capitéis fantasiados; apresenta dois medalhões em alto-relevo representando S. Pedro e S. Paulo. Sobre o vértice do frontão, uma peanha rosetada encimada por um baldaquino, acolhe uma imagem, de mármore branco, representando Santa Catarina.
Sob a porta há um frontão que ostenta, encastrado no tímpano, um brasão de armas atribuídas erradamente a D. Jorge da Costa, erro este que ainda hoje corre em diversa obras. Sabe-se que estas armas pertenceram a um sobrinho do Cardeal de Alpedrinha, de nome Cristóvão Feio da Costa , cónego e tesoureiro da sé de Lisboa, administrador do morgado de Pancas e da Capela de Santa Catarina, que ele fez construir, por obrigação imposta por D. Martinho da Costa, arcebispo de Lisboa e irmão do Cardeal.
Esta capela era dos Senhores de Pancas e a sua instituição era independente da instituição do morgado de Pancas. Tanto é assim que Cristóvão da Costa Freire, bisneto de D. Margarida Vaz da Costa, irmã do Cardeal de Alpedrinha, foi 2.º administrador da Capela de Santa Catarina, e 4.º administrador do Morgado de Pancas.
O morgado de Pancas foi fundado a 4-VII-1495, no cartório de Domingos Lopes, tabelião de Castelo Novo, tendo sido dotado com bens de diversos familiares do Cardeal de Alpedrinha, nomeadamente, dos seus irmãos D. Jorge Vaz da Costa, arcebispo de Braga, D. Catarina , D. Margarida , e do filho desta última, Cristóvão Feio da Costa, cónego e tesoureiro da Sé de Lisboa, o qual veio a edificador esta capela e administrar o morgado de Pancas. Os bens iniciais deste morgado eram umas casas em Lisboa e a Quinta de Pancas, termo de Samora Correia . Ao longo de quatro séculos os bens deste morgado foram aumentando de tal maneira – por heranças, dotes, casamentos, aforamentos – que no século XIX era considerado um dos mais ricos e poderoso do país .
No altar havia, outrora, um valioso retábulo de nove tábuas. Seis delas representam passos da vida de Cristo. As outras três, de fina factura, ao estilo da pintura italiana da primeira metade do século XVI, representam passos da vida de Santa Catarina. Estão encaixadas na primitiva moldura . A sua tipologia filia-se no maneirismo.
O retábulo foi desmontado e retirado da capela, para participar na “Exposição dos Primitivos” (1940), em Lisboa. Foi restaurado na oficina do mestre Mardel.
Nunca mais regressou ao local de origem e permanece armazenado na capital. Foi classificado como património, o que originou um litígio judicial por parte da família detentora da obra, contra o Estado, ao qual um acórdão não deu, em parte, razão.
Em 1994 esteve exposto na XI Bienal de Antiguidades, na F.I.L.
Vários herdeiros desta preciosidade, encontrando-se actualmente a tentar fazer o seu estudo e restauro no I.J.F., com vista a uma proposta de venda ao IPPAR, por um preço justo, assim como a respectiva capela, que seria cedida em condições a definir.
Actualmente, a capela e o retábulo, são propriedade particular dos numerosos descendentes do Deão Boavida.
A Capela do Leão está classificada como imóvel de “interesse público” (Decreto IIP, Dec. n.º 32.973, de 18-8-1943). O recheio da capela, incluindo o políptico de nove quadros. está arrolado (Dec. n.º 38.147, de 5-1-1951).

CAPELA DO ESPÍRITO SANTO
Está na parte baixa, a meio da vila, junto à estrada.
A actual edificação, resulta da reconstrução da primitiva igreja, da qual reza a tradição, ser obra dos Templários e o primeiro templo que existiu nesta localidade. Em 1829 e 1891, devido à ruína em que se encontrava, foram-lhe reconstruídas, sucessivamente, duas paredes.
Tem antiquíssimos altares:
• O altar-mor é do Divino Espírito Santo.
• O dois laterais: o do Lado Esq.º tem uma imagem de São Domingos; o do Lado Dt.º tem um Santo Amaro Abade.

CAPELA DE SANTO ANTÓNIO
Muito pequena, a sua construção recente, datada de 1830, resulta da substituição de uma capela sob a invocação do mesmo Santo, a qual ficava na Rua de Santo António.
Está ao cimo da vila, situada num pequeno outeiro que, com balcões gradeados, serve de miradouro a uma extensa paisagem.

CAPELA DE SÃO SEBASTIÃO
Está fora da vila num outeiro superior ao Palácio do Picadeiro. Sobre a sua fundação apenas se presume ter sido edificada no reinado de D. sebastião. Tem um pórtico românico, e um alpendre sustentado por colunas, o qual não é original pois data dos primeiros anos do século XIX.
Em tempos, os interesses particulares, abusivamente tomaram posse dos terrenos á sua volta. Encontra-se em mau estado de conservação.
Serviu a Companhia de Jesus, que aqui esteve sediada algum tempo com o objectivo de fundar nela um colégio. Opuseram-se a esta instalação as elites aristocráticas locais como os Senhores de Pancas e o Conde do Sabugal, tendo a Companhia deixado a vila por decreto régio de 1665.

CAPELA DO MENINO DEUS               
Capela do Menino-Deus, Pedra de Armas.

Capela do Menino-Deus,
Pedra de Armas.
Alpedrinha,
Capela do Menino-Deus.










                      


Situada na Rua do Chafariz, junto ás casas da capela que pertenceram ao morgado de Trancoso, encontra-se totalmente arruinada.
Esta capela foi mandada construir por disposição testamentária de D. Antónia da Cunha (?-1674), que aí está sepultada. Esta senhora descendia de D. Margarida, irmã do Cardeal. Foi edificada em 1681, e mais tarde veio a pertencer ao padre Diogo Furtado da Costa, familiar do Santo Ofício (1727), ao qual se atribui o brasão de armas que está colocado no tímpano do frontão interrompido.

A sua pedra de armas, exactamente igual à que se observa numa outra casa, é formada por um escudo cortado, tendo no 1.º a roda das navalhas, alusivas ao martírio de Santa Catarina; o 2.º do cortado é partido; o primeiro com seis costas, e o segundo com seis cunhas; ao centro tem uma espada que o atravessa de cima a baixo, com o punho excedendo o chefe; por timbre tem as insígnias de um eclesiástico, formadas pelo chapéu e três ordens de borlas.


CAPELA DO ANJO DA GUARDA
Situada na periferia de Alpedrinha, inicialmente a caminho de Vale de Prazeres, já fora do seu perímetro urbano, é por assim dizer o padroeiro de Alpedrinha.
Apesar de modernizada e mudada para um local mais acima (em 1926), tem mais de trezentos anos. Do seu actual terreiro desfruta-se uma das mais belas paisagens panorâmicas de parte do distrito de Castelo Branco.
Alpedrinha,
Capela do Anjo da Guarda.
A sua festa com o seu arraial é das maiores e mais tradicionais festas da zona.
Danças, cantares, filarmónicas e procissões, com um complicado ritual e fogo de artifício à noite.
O instrumentos musicais mais usados são os bombos e os adufes, aliás comuns a toda esta região. A festa dura vários dias.
Rapazes e raparigas em rancho, antigamente cantavam entre outras quadras:
«Ó Anjo da minha Guarda
Que dais aos vossos romeiros?
– Água da minha fonte,
sombra dos meus castanheiros!
Os frondosos e seculares castanheiros já morreram, devido a várias doenças que os tem dizimado neste último século.


CHAFARIZ MONUMENTAL D. JOÃO V
Situado na parte mais alta da vila, executado em granito fino, está estruturado por dois níveis e é inspirado na combinação barroco italiano com o rococó francês. O arquitecto construtor, Valentim da Costa Castelo Branco, capitão engenheiro da Província da Beira era natural de Alpedrinha.
Alpedrinha,
Chafariz D. João V (1714).
Na sua parte mais alta tem uma espécie de baluarte de três faces, rematado por uma coroa real. De cada face corre uma bica em bronze para um tanque. Deste tanque, por outras três bicas, corre a água para um tanque rectangular, mais baixo, destinado a dar de beber aos animais. Com vários lances de altura, é bastante grande e bem proporcionado. Entre os tanques desnivelados, tem um átrio com assentos em pedra e duas escadas laterais, simétricas.
Como pano de fundo, a uma altura superior, tem o Palácio do Picadeiro e a encosta da serra da Gardunha.
Apresenta inscrições em latim, cuja tradição livre é a seguinte:
«A MAGNIFICÊNCIA DA CÂMARA DE ALPEDRINHA, POR ORDEM E MERCÊ DO CERENÍSSÍMO REI DE PORTUGAL. D. JOÃO V, CONSTRUIU ESTE APRAZÍVEL CHAFARIZ DE EXPLÊNDIDA ÁGUA PARA FELECIDADE DA PÁTRIA Á CUSTA DOS SEUS TRIBUTOS PREDIAIS, NO ANO DO SENHOR DE 1714.»


PELOURINHO
Situado no Largo da Praça, em frente à antiga casa da Câmara, é o símbolo da autonomia municipal.
Apresenta uma base quadrangular, a qual assenta numa plataforma de três degraus. O fuste ó octogonal e termina num capitel jónico, sob o qual se apoia um paralelepípedo, cujas quatro faces tem, respectivamente, o escudo nacional (lado N), a esfera armilar (lado S), «PETR(us). P(rincipe). L(egitimo). IMP(erio). REGE(n)TE» (lado E.) e «A.N. 1675» (lado O); sendo encimado por uma pirâmide quadrangular, coroado por uma esfera.
Está classificado como de “interesse público” (Decreto 23.122, de 11-10-1933).

CASAS RÚSTICAS
Na área territorial desta freguesia encontram-se ainda alguns exemplos relativamente bem conservados de exemplos da arquitectura rural, na qual predominam as seguintes características:
• Casas de dois pisos, com o piso térreo destinado ao gado e alfaias agrícolas, e andar de habitação.
• Cozinha com chão de lajes em pedra para fazer lume.
• Volumetria predominantemente rectangular, com telhados de duas abas simples e pouco inclinados.
• Poucas portas e janelas numa evidente adaptação ao clima.
• Varandas de madeira, correndo ao longo da fachada principal, coberta pelo telhado.


PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO

CALÇADA ROMANA E MEDIEVAL
Constituída por longas lajes em granito, arranca junto ao Palácio do Picadeiro e Chafariz Monumental D. João V, serpenteando pela Serra da Gardunha, em direcção ao Fundão, passando pela contígua freguesia de Alcongosta. Uma outra aponta em direcção a Castelo Novo. Data, hipoteticamente, dos séculos I a IV; e apresentam reconstruções dos séculos XIV e XV.
Há diversos troços à volta de Alpedrinha dos quais os principais são: o já citado D. João V – Portela; e o de Lugar de Bacelos – Nogueirões.
Deste caminho, que hoje só é possível percorrer a pé, podemos desfrutar vistas panorâmicas espectaculares pela sua vastidão.
Ao longo do seu percurso passa-se perto de um local muito abrigado e pouco acessível, denominado a Canada. Neste local, durante a primeira invasão francesa (1807), veio a acolher-se parte da população de Alpedrinha, assim como, posteriormente, durante a Patuleia (1846-47).
Reza a enraizada tradição, difundida em quase todas as monografias da região, que foi esta serra que acolheram os foragidos cristãos da Egitânia (Idanha-a-Velha), em 710 d.C., segundo a tradição que ainda subsiste por aqui, a Canada foi um dos seus sítios de refúgio privilegiado, no qual se puseram ao abrigo dos invasores mouros.

CARVALHAL REDONDO
Sítio arqueológico, completamente ao abandono na periferia de Alpedrinha, o qual segundo vários autores seria aqui a PETRATÍNIA dos romanos, que deu erigem ao actuais nome da actual vila de Alpedrinha.
É um castro romanizado que mereceu a visita do professor Leite de Vasconcelos, no princípio do século XIX.
Os vestígios mais numerosos são do período romano: uma ara a Marte, várias inscrições funerárias, canalizações de pedra e chumbo, e destas uma com o nome da oficina de fabrico, vias calçadas que realçam a sua importância como ponto de passagem, alicerces de casa, colunas, moedas, tijoleiras e cerâmicas diversas .
A criação de uma estação arqueológica neste local seria um não desprezível valor acrescentado em termos de turismo cultural.


PATRIMÓNIO NATURAL

PAISAGÍSTICO
A Serra da Gardunha era em tempos chamada serra de Alpedrinha: é assim que a nomeia em 1758 o vigário local Frei Theodosio R. Peralta, quando responde ao questionário das Memórias Paroquiais. O mesmo nome lhe dá Fr. Francisco de Santiago em 1762 .
Os seus mais prenunciados relevos, estão confinados pelo Fundão (sede de concelho), Alpedrinha, Castelo Novo (fundada pelos Templários), e S. Vicente da Beira (uma das mais antigas vilas portuguesas): numa extensão total de cerca de 20 quilómetros.
Dos cumes desta serra, junto a Alpedrinha, avista-se um imenso vale e ao longe uma grande porção do território espanhol. Em direcção ao norte, vê-se o imensa Cova da Beira com a Serra da Estrela, a Covilhã com cerca de uma dezena de freguesias.

BOTÂNICO
Sendo uma espécie de derivação da Serra da Estrela, foi caracterizada durante tempos imemoriais pelos soutos de castanheiros, pelos carvalhais e pinhais, pomares e hortas, rica de águas que escorriam pela serra abaixo, em pequenos regatos. Porem, esta paisagem, está a mudar gradualmente devido á intervenção humana.
Em 1933 ainda era “povoada por uma opulenta mata de castanheiros mandados plantar por el-rei D. Dinis”, no dizer de António Salvado Mota , o qual ainda transcreve um texto de 1762, da autoria de Fr. Francisco de Santiago:

«A esta serra de Alpedrinha convinha melhor o nome de agregado de jardins pelo vistoso de suas árvores, e delicioso de suas fontes e regatos, adornada de varias flores naturaes, de muitas ervas cheirosas, e arvores, que tendo o nome de silvestres, por serem nascidas espontaneamente ou plantadas pelo soberano Agricultor, são domésticas pelas excelentes fructas que produzem (…). O mais desta serra é um continuo souto embrenhado de Castanheiros, que se estende por muitas leguas, e na bondade de suas madeiras no frondoso de seus ramos, na abundância, e gosto de seu fruto não pode com elle competir outro algum do Reino

Pouco mais de um século depois, em 1883, Eduardo Coelho, escrevia sobre a mesma serra:

«Esta serra contem uma das mais belas florestas do paiz, um bosque densissimo de castanheiros e carvalhos, cheios de frescura e sombras deliciosas, onde pássaros se aninham e afinam as suas orchestras

Actualmente grande parte dos castanheiros estão em completa extinção devido a doenças (a doença da “tinta” é uma das principais), os pinhais têm ardido sistematicamente (63 mil hectares na Beira Interior, em 1998), e as surribas em socalcos para plantar cerejeiras têm avançado pela serra acima.
A juntar a tudo isto temos a inevitável impacte ambiental causado por uma via rápida em construção, assim como a criação dos seus acessos.
Urge inverter esta situação que compromete a existência futura de todo este ecossistema, assim como degrada um dos principais recursos naturais desta zona: a sua paisagem natural.
Esta serra tem uma espécie botânica endémica, a Asphodelus bento-rainhae (P. Silva, 1956), foi descrita pela primeira vez em 1956, por A. R. Pinto da Silva. A população local chama-lhe Abrótea.
Actualmente está a ser estudada por Pedro Reis de Sousa, com o fim de serem conhecidos os factores ecológicos que perturbam esta espécie, com o fim de a preservar. As plantas deste género, segundo o citado investigador, “são ervas vivazes e rizomatosas, raramente anuais e de folhas basais, com flores brancas ou rosadas, numerosas, dispostas num cacho denso ou em panícula. Tem cápsulas loculicidas, com 6 sementes”.
Características da Asphodelus bento-rainhae (P. Silva, 1956):
• Cápsulas com 5-7 mm, mitriformes.
• Folhas com 15-40x0,3-1,2 cm, lineares, desde triangulares a caniculado-aquilhadas e glaucas.
• Caule simples ou superiormente ramificado, 2-5 ramos ascendentes, meduloso, frágil e delgado, com 70-130 cm.
Para proteger e usufruir o património natural da Serra da Gardunha há, na sede de concelho, uma associação conhecida por CAMINHEIROS DA GARDUNHA. Esta organização organiza os corsos carnavalescos temático, nos quais passa menssagens de crítica social. Um dos temas deste ano (1999), foi a reivindicação de um ECOMUSEU DA SERRA DA GARDUNHA.

FAUNA
A fauna que tradicionalmente abundava era constituída por coelhos, lebres, perdizes, lobos, raposas, javalis e corsas.
Desta fauna, as corsas, desapareceram completamente na segunda metade do século passado. Quanto às outras espécies, vão rareando cada vez mais, quer por alteração do habitat, quer devido à caça.


FIGURAS ILUSTRES


D. JORGE DA COSTA (1406-1508)
Alpedrinha foi berço do célebre D. JORGE DA COSTA (1406-1508), conhecido em Portugal por CARDEAL DE ALPEDRINHA, e em Roma por CARDEAL DE LISBOA.
Foi uma das grandes figuras da Renascença com grande influência em Portugal e nos negócios da Santa Sé, cuja acção determinante na política da época não está suficientemente estudada. Grande mecenas e possuidor de uma imensa fortuna, mandou estudar à sua custa em várias universidades estrangeiras, tanto familiares como criados e amigos.

D. Jorge da Costa, pormenor
 dos Painéis de São Vicente.

Painéis de São Vicente.












Licenciado e doutorado em Teologia, foi mestre de D. Catarina, irmã de D. Afonso V, rei do qual foi confessor e “predilecto conselheiro” . Serviu como embaixador, em diversos negócios, quer os reis D. João V, D. João II e D. Manuel I. Por estes foi encarregado de tratar, quer assuntos políticos da maior importância, quer casamentos régios.
Gozou as maiores honras eclesiásticas e teve vários cargos e benefícios, simultaneamente, dos quais alguns autores, certamente com exagero, contam cerca de duzentos ao todo. Foi arcebispo de Braga e Lisboa; bispo de Évora, Porto, Viseu, Guimarães, Algarve e Ceuta; prior de Guimarães, deão de mais oito catedrais, e titular de muitas outras abadias e priorados.
Viveu em Roma e aí serviu quatro papas , desempenhando o papel de consultor dos negócios de Portugal.
Foi nomeado Cardeal de Santa Maria de TransTibre, pelo papa Xisto IV, recusou ser papa em favor de Júlio II, por quem nutria grande amizade. Foi ainda Cardeal Camerlengo e decano do Colégio dos Cardeais. Contam os seus biógrafos que quando D. Jorge da Costa ia beijar o pé do papa Júlio II, depois da eleição, este lhe disse: “Amigo, esta cadeira a vós se devia e vós ma destes. Eu serei papa no nome e vós na realidade”.
Foi elemento fundamental nas negociações posteriores à primeira viagem de Cristóvão Colombo ao serviço dos Reis Católicos, devido às quais o mundo foi partido entre duas áreas de influência luso-espanhola pelo tratado de Tordesilhas. Para alguns investigadores, como Manuel Brás Venâncio, “o cardeal de Alpedrinha teve uma acção não inferior e tão meritória, na expansão africana e nos descobrimentos marítimos, como a do próprio infante D. Henrique.
Escolheu para seu brasão de armas de fé a “roda de navalhas” alusiva ao martírio de Santa Catarina de Alexandria, da qual era muito devoto. Este seu brasão de armas ainda hoje é visível num dos cunhais da torre norte da Sé de Lisboa, que às suas custas se reparou e concluiu. As mesmas armas em associação com as armas dos Costas, fazem parte da heráldica de vários solares de Alpedrinha.
Faleceu em 1508 em Roma, onde está sepultado na igreja de Santa Maria del Populo, num grandioso mausoléu por ele mandado construir e ao qual o papa Júlio II, mandou acrescentar um longo elogio das suas virtudes.
A sua numerosa família – os COSTAS – deixaram a sua memória ligada a Alpedrinha e a outras freguesias do concelho, em diversas edificações.


D. JORGE VAZ DA COSTA
D. JORGE VAZ DA COSTA, irmão ou, segundo outros autores, sobrinho ou mesmo filho(?), do Cardeal de Alpedrinha, foi arcebispo de Braga. Foi ele que instituiu o Morgado de Pancas, com bens seus e de suas tias.


D. MARTINHO DA COSTA (1433?-1521)
D. MARTINHO DA COSTA (1433?-1521), irmão do Cardeal de Alpedrinha, veio a ser arcebispo de Lisboa, sucedendo no cargo a seu irmão, no ano de 1500.
Baptizou solenemente o príncipe D. João, filho de D. Manuel, que viria a ser D. João II; benzeu o local em foi edificado o Convento da Madre de Deus, em Xabregas, fundado pela rainha D. Leonor, viuva de D. João II; e casou o rei D. Manuel, com a sua terceira mulher D. Leonor, irmã do Imperador Carlos V.
Foi ele que adquiriu os terrenos aonde viriam a ser edificados o Palácio de Pancas e a Capela do Leão em Alpedrinha.


CRISTÓVÃO DA COSTA (?-1562)
CRISTÓVÃO DA COSTA (?-1562), tesoureiro-mor e cónego da Sé de Lisboa, era sobrinho do Cardeal de Alpedrinha. Edificou a Capela de Santa Catarina, na qual está sepultado, em cumprimento da vontade de seu tio D. Martinho da Costa, Arcebispo de Lisboa.


D. PEDRO FEIO DA COSTA (?-1563)
D. PEDRO FEIO DA COSTA (?-1563), sobrinho do Cardeal de Alpedrinha, um dos onze filhos de D. Margarida Vaz da Costa e de seu marido Lopo Álvares Feio, senhor de Atalaia do Campo, no concelho do Fundão.
Com apenas 22 anos de idade foi promovido a bispo do Porto, devido “à fama de talento e santidade”, segundo alguns autores, e certamente devido ao poderio que sei tio desfrutava junto da Santa Sé.
Passou a Espanha e aí foi nomeado bispo de Léon e de Osma. Nesta última cidade fundou a Colegiada de Santa Catarina, onde mais tarde veio a ser instalada uma universidade. Faleceu em Aranda (Espanha), com fama de Santo, e aí foi sepultado na capela-mor do Convento do Espírito Santo que ele próprio fundara.


NUNO GONÇALVES
D. ISABEL GONÇALVES DA COSTA, irmã do Cardeal de Alpedrinha, casou em primeiras núpcias com João Gonçalves de Gusmão, do qual teve, segundo duvidosas teses, o não menos célebre pintor NUNO GONÇALVES (DE GUSMÃO), como afirmou o investigador Henrique Loureiro. Este Nuno Gonçalves de Gusmão, que está sepultado na capela de Santa Catarina, em Alpedrinha, é o autor dos seis Painéis de S. Vicente. Nesta obra retractou o cardeal de Alpedrinha nos chamado Painel do Arcebispo.
Esta hipótese de filiação, corrente em forma impressa em vários textos, e em monografias locais, carece de fundamentação e, muito provavelmente é infundada.
Sabe-se que com este nome houve dois pintores, ambos referidos pelo estudioso Fernando Pamplona.
Um deles estudou pintura em Itália, assim como Direito em Bolonha, chegando a chanceler de D. João V.
O outro foi o provável autor dos seis Painéis de S. Vicente, nomeado pintor de D. Afonso V em 1450.
Segundo estudos feitos e divulgados na já citada «Alpetrinienses Ilustres» (MOTA, 1929), o pintor Nuno Gonçalves era filho de D. Isabel Gonçalves da Costa, irmã do Cardeal de Alpedrinha, casada com Estevam Gonçalves que foi embaixador de D. João II (segundo Henrique Loureiro) ou com João Gonçalves de Gusmão (segundo Pinho Leal).

Nuno Gonçalves (de Gusmão), casou com D. Inês da Cunha, 3.ª neta da rainha D. Leonor de Teles e de seu marido D. João Lourenço da Cunha, dele provêm os Cunha de Gusmão, de Alpedrinha.
Nuno Gonçalves de Gusmão, faleceu em Provesende (Sabrosa, Vila Real), sendo enterrado no jazigo da família da capela-mor da igreja matriz. Passados anos foram os seus ossos trasladados para Alpedrinha, de onde era natural. Não se sabe se para o jazigo dos Cunhas na Igreja Matriz, se para a capela de Santa Catarina.
Nuno Gonçalves (de Gusmão), representou D. Jorge, no Painel do Arcebispo, nos Painéis de S. Vicente, juntamente com, pelo menos, dois dos seus irmãos.


CULTURA
Os habitantes desta antiga vila sempre deram grande importância à vida cultural, o que é atestado pelo grande número de associações de convivialidade aí existentes no século XIX, em contraponto com o reduzido número dos seus habitantes.
Foi esta vila sede da primeira casa de espectáculos de todo o distrito de Castelo Branco, assim como aqui nasceu o primeiro periódico a nível do concelho.


CASA DA ÓPERA (1839-1855)
Teve uma “Casa da Ópera”, fundada em 1839, à Rua do Calvário. Foi o primeiro teatro que houve em todo o distrito de Castelo Branco.
Na sequência desta casa da ópera e de outras associações com o mesmo fim, existe actualmente o “Teatro Clube de Alpedrinha”, que dispõe de uma modesta mas ampla sala de espectáculos.


TEATRO DOS VALADARES (1858-1891)
Dedicado à arte dramática, conhecido também por Teatro de Santa Catarina, acabaria por arder em 1891.


TEATRO CLUBE DE ALPEDRINHA (1894)
Ainda funciona com espectáculos de teatro e concertos. Apesar de modesta, é dos poucos teatros em funcionamento em todo o distrito de Castelo Branco.


ESTRELA DA BEIRA
O jornal «Estrella da Beira» começou a publicar-se a 10 de Setembro de 1864. Durante quatro anos saiu quase regularmente ás quartas-feiras e aos sábados.
Sob a direcção do padre António José Boavida, este jornal estava ligado aos interesses do Partido Regenerador.
Um ano depois da sua fundação apareceu um outro jornal, na cidade da Covilhã, tendo por título “Sentinela da Liberdade”.


CLUBES
• «ASSEMBLÊA», espécie de clube maçónico.
• «TEATRO CLUB».
• «GRÉMIO», de cariz elitista.
• «CLUB ARTÍSTICO», de características menos elitistas.
• «CENTRO ELEITORAL REPUBLICANO», fundado em 1911.


LIGA DOS AMIGOS DE ALPEDRINHA
Fundada em 1944, tem a sua sede no edifício dos antigos Paços do Concelho, onde instalou um Museu da Liga, espécie de pequeno repertório etnográfico da vila e da região.
Tem como objectivo o fomento da cultura e a preservação do património da vila.
Dinamiza uma Orquestra Juvenil e a Orquestra e Coro, que animam as festas locais, e edita com periodicidade regular desde 1977 um pequeno “Boletim da Liga dos Amigos de Alpedrinha”.
Qualquer dinâmica de desenvolvimento local tem, na Liga, um interlocutor atento.


COMISSÃO DE ESTUDO E DEFESA DE ALPEDRINHA (C.E.D.A.)
Surgiu, em 1993, para defender Alpedrinha de alguns atentados contra o seu património, nomeadamente sobre o traçado da novo IP2.
Colaborou no pedido de classificação do Centro Histórico, até hoje sem resposta.


MUSEUS
Os três museus existentes na vila, só visitáveis depois de se apelar à boa vontade de quem possui a chave, são um louvável esforço da boas intenções de alguns cidadãos abnegados. Porém não obedecem a correctos critérios expositivos, estando pelas suas características, mais próximos das concepções museológicas do colecções do século XVIII. Não funcionam com reservas, não tem centro de documentação e estudo, nem controlam as condições técnicas de conservação.
O museu de ARTE SACRA, a funcionar na Igreja Matriz, devido ao valor das peças e à dificuldade de criar condições de segurança sem grandes encargos, terá sempre grande dificuldade em facultar o acesso às suas instalações, o que aliás é bastante difícil.
O MUSEU DA LIGA DOS AMIGOS DE ALPEDRINHA, de características etnográficas, e o MUSEU DO MOBILIÁRIO, da S. C. Misericórdia de Alpedrinha, não têm pessoal especializado de apoio e sofrem das carências já referidas.
Interessante seria a instalação, destas duas últimas colecções num espaço a adquirir, tutelado por um protocolo estabelecido entre as duas associações proprietárias.


ARTES E OFÍCIOS TRADICIONAIS


PIROTECNIA
A pirotecnia teve, em tempos, grande desenvolvimento nesta vila. Aí servia de apoio às grandes festas e romarias da vila e do concelho.


FABRICO CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE MÓVEIS ANTIGOS
Ficou célebre esta vila pelo fabrico de móveis antigos, com embutidos e coiros trabalhados.
Todo o país conheceu, no século passado, as cadeiras que aqui se fabricavam com assento e espaldar de sola lavrada, na oficina de José Joaquim dos Santos Pinto. Este artista de grande habilidade, imitou com perfeição, e manteve o segredo durante muito tempo, os coiros trabalhados do “tipo Moscow”. Os seus descendentes continuaram a sua obra e especializaram-se nos móveis de embutidos, e nos torneados. Um seu neto, José Parente Pinto, dedicou-se aos móveis lacados. Dela ficou um espólio que hoje é um museu da S.C.M.A.
Subsistem ainda duas oficinas que têm formado alguns discípulos na técnica do fabrico de mobiliário antigo. Numa delas trabalha um grande especialista em embutidos, com vários aprendizes, a fazer reproduções do mobiliário existente no museu. Muitos dos seus clientes são estrangeiros.


FERROS FORJADOS
Tiveram um grande desenvolvimento na vila, nos princípios deste século. Destinavam-se a candeeiros, a grades para janelas e varandas, portões para quintas.
Esta arte caiu em declínio e perdeu-se completamente com a introdução de outros materiais como o alumínio.
Foram patrocinados à poucos anos cursos de formação nesta arte, que não tiveram consequência. Talvez a junta de freguesia devesse manter uma oficina em funcionamento nesta área, para proporcionar apoio a quem dela se quisesse servir até ter condições de se autonomizar.


CESTARIA E ARTIGOS DE PALHA
Ouve alguns artífices desta arte, comum a quase toda a Serra da Gardunha. Fabricavam-se na vila, chapéus de palha e abanos, para serem vendidos em várias feiras do país.


OLARIA
Num dos arrabaldes da vila, junto à estação do caminho de ferro, ouve em tempos uma olaria, que fabricava loiça preta de barro para usos comuns.
Deveria esta olaria ser recuperada para se integrada num projecto pedagógico, virado à comunidade escolar, tentando não só recuperar a técnica tradicional, como reformulá-la, adaptando-a as novas exigências formais, recuperando a gramática decorativa, após investigação arqueológic, dos povos que primitivamente habitaram esta paragens.


LATOARIA
Teve um grande desenvolvimento, desaparecendo com a introdução do plástico. Só será possível a sua recuperação, não em termos de objectos funcionais, mas com fins decorativos, sem desvirtuar a sua formas originais.


GASTRONOMIA
O património gastronómico de Alpedrinha, é preservado com toda a atenção por muitas casas particulares. Praticamente desapareceu dos estabelecimentos de restauração.

Dele fazem parte
• os doces: pão-de-ló, bolos de leite, broas de mel e esquecidos.
• os salgados: empadas, cristas, e pastéis de massa tenra;
• os pratos tradicionais: cabrito recheado, perdiz à Alpedrinha.

Necessário seria um levantamento sistemático da gastronomia excelente desta zona, a promover em restaurantes que quisessem privilegiar este aspecto cultural que certamente traria beneficios económicos.


TERMALISMO / TERMAS DA TOUCA
No termo de Alpedrinha, a cerca de 4 km da vila, há quatro nascentes de água medicinal – sulfúria-sódica – fria (13 º C), isentas de contaminação, bacteriologicamente puras e radioactivas.
Completamente desaproveitadas no seu possível uso terapêutico, são boas para tratamentos de reumatismo e dermatoses.
Nas termas da Touca há um rudimentar balneário, completamente desactualizado a qualquer espécie de utilização. Data de 1840 a construção de uma pequena e modesta casa com três tinas para tratamentos; em 1866, já havia algumas casas à volta, devido à fama dos banhos. Actualmente nada se tem feito no sentido de enquadrar estas águas de boa qualidade terapêutica num projecto de termal.
Propriedade das Junta de Freguesia, não se compreende o abandono a que está votada esta mais valia inestimável.
Associada à sua paisagem natural e aos seus ares puríssimos, a existência de umas termas neste local, podia ser um dos maiores pólos de atracção turística da freguesia e, por arrastamento, dinamizar actividades hoteleiras, e diversas serviços de apoio.
Estamos, por incúria, a desperdiçar uma das grandes riquezas desta freguesia que podia contribuir para a fixação dos seus naturais, criando muitos postos de trabalho ligados á actividade.


HOTELARIA / TURISMO RURAL E DE HABITAÇÃO
Há pequenos empreendimentos de hotelaria, na periferia da vila, junto á estrada, sem características que permitam um turismo de qualidade
Os vários pequenos restaurantes não tiram nenhuma vantagem da gastronomia regional, e da paisagem que se desfruta do local onde estão implantados.
Tem alguns cafés e bares, porem sem grande qualidade estética.
Sobressaem deste panorama uma casas de turismo de habitação.


CASA DO BARREIRO
A Casa do Barreiro, atrás referida, tem condições excepcionais para o turismo de habitação.
Situada no Largo das Escolas, tem como enquadramento uma quinta, já na periferia do perímetro urbano da vila.
Tem parque de estacionamento, sala de reuniões, sala de banquetes, biblioteca, parque infantil e ténis.


QUINTA DO ANJO DA GUARDA / PISCINA
Acrescente-se uma magnifica e grande piscina particular, na Quinta do Anjo da Guarda, aberta ao público. No seu interior tem várias casas para aluguer. Encontra-se actualmente em obras de requalificação de várias estruturas existentes na quinta para oferta de serviços de restauração.


POLÉMICAS


IP2 – ATRAVESSAMENTO DA GARDUNHA
Em 1993 estalou a polémica devido ao atravessamento da serra, mesmo junto à vila, pelo IP2 (que liga Bragança a Ourique), com um troço em túnel.
O seu traçado foi imposto à população por necessidades de calendário eleitoral, sem prévia consulta pública, com base num estudo prévio com mais de uma década, sem sérios estudos de impacte ambiental.
O estudo feito, em textos do próprio Ministério do Ambiente, revelava “lacunas e insuficiências de informação quanto à caracterização do recursos hídricos, ruído, conceitos e metodologias da análise de paisagem e análise de impacto sócio-económicos”.
Alpedrinha, Fonte de Mergulho.
Este projecto é fruto de uma concepção de “progresso”, incompatível com o desenvolvimento sustentado de uma pequena comunidade.
A «Comissão de Estudo e Defesa de Alpedrinha» (C.E.D.A.), apercebendo-se da política do facto consumado, iniciou um processo de contestação.
O Senhor Provedor de Justiça recomendou a suspensão dos trabalhos, com base no início do processo de classificação do centro histórico de Alpedrinha, o qual era atravessado pelo traçado.
Isto não obstou a que as obras fossem iniciadas e a C.E.D.A. fosse considerada com organização contrária ao progresso.
A Comissão Europeia, a quem a C.E.D.A. recorreu, instaurou um processo contra o estado português, que ficou privado de recorrer aos fundos comunitários.
Na sequência destes factos, a Junta Autónoma das Estradas acabou por rever o projecto, prevendo a construção de mais dois pequenos túneis.
Se a população, as suas organizações de base, nomeadamente a C.E.D.A., não se mantiveram vigilantes, outros atentados vão acontecer. As populações menos solidárias e com menos poder reivindicativo, pagarão sempre os custos do “progresso” dos outros.
O progresso deve ser feito, neste caso e em todos os grandes projectos, sem comprometer a Natureza, da qual esta comunidade faz parte e depende para sobreviver. O seu maior recurso, são as suas condições naturais que este traçado, em parte, compromete.


CLASSIFICAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO
Na mesma época (1993), a C.E.D.A., procedeu às iniciativas para a classificação do centro Histórico de Alpedrinha, também sem sucesso, pois isso colidia com os “interesses” das entidades que promoveram o traçado da IP2.
Em 1993 a Comissão europeia procedeu a uma análise dos males da Europa no livro branco sobre o “Crescimento, Competitividade e Emprego”. Desse documento concluía-se a necessidade de alterar o modelo de desenvolvimento, o qual passaria a ser centrado na dimensão humana, local e cultural dos processos económicos. Neste contexto surgiu o “Programa das Aldeias Históricas de Portugal”, para dar respostas integradas aos problemas do desenvolvimento rural e contribuir para a fixação das populações a partir da economia local.
Em 1994, concorreu ao Programa de Recuperação das Aldeias Históricas, no âmbito do Programa de Promoção do Desenvolvimento Regional (P.P.D.R.), para atenuar as assimetrias regionais e combater o fenómeno da desertificação do espaço rural. Foram aceites dez candidaturas – Almeida, Castelo Novo, Castelo Mendo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares, Marialva, Monsanto, Piódão e Sortelha –, tendo por base, entre outros critérios, a existência de património arquitectónico, arqueológico ou ambiental classificados. Para este projecto foram disponibilizados cinco milhões de contos provenientes do FEDER, do Orçamento de Estado e do orçamento dos Municípios.
Alpedrinha, mais uma vez, foi excluída deste processo e perdeu uma nova oportunidade de desenvolvimento sustentado e humano, pelo que tem que contar apenas com as suas energias para o seu próprio desenvolvimento.
Este deve ser feito com todos os:
• Agentes económicos e sociais.
• Associações.
• Colectividades.
• Entidades locais.


CONCLUSÃO
Como se pode observar no terreno, a expansão urbana de Alpedrinha, devido ao declive da encosta da serra, iniciou-se, por motivo de defesa (?), a partir dum sítio alto.
Aí estão em primeiro lugar a Casa da Comenda, implantada no local de uma antiga pequena fortaleza (?), e logo seguir, a Igreja Matriz. A povoação cresce no sentido descendente, a partir deste núcleo primitivo e no percurso da sua via principal de atravessamento.
Este percurso, iniciava-se junto à capela de Stº António, em direcção aos largos da Câmara, do solar do morgado de Pancas e capela de Santa Catarina, seguindo em direcção à Igreja Matriz, e desta, ao Chafariz D. João V.
Junto á Capela do Espírito Santo, recebia o ramal que vinha da Atalaia do Campo. O outeiro da Capela da Misericórdia, onde passa a actual estrada era um local de passeio.
Alpedrinha foi berço de algumas ilustres famílias que, com o desabar do Antigo Regime, venderam os seus bens e solares e debandaram da vila. Daí uma das explicações do seu declínio.
Porém, a sua população, nunca conseguiu possuir uma tradição industrial e comercial, o que fez que fosse ultrapassada pela então vila do Fundão. Esta última, desenvolveu várias actividades industriais e comerciais, ganhou população, e acabou por lhe arrebatar a sede de concelho.
(...)


CAUSAS DO DECLÍNIO
Grande parte das populações da Beira Interior encontram-se em declínio.
Esse declínio é acentuado nas freguesias situadas na encosta sul da Gardunha, das quais Alpedrinha faz parte.
As causas deste fenómeno são conhecidas:
• Baixa densidade populacional.
• Desvitalização demográfica.
• Quase abandono de alguns aglomerados.
• Profundo envelhecimento da população.

É necessário inverter estas tendências e revitalizar estes centros, dos quais Alpedrinha é, em nossa opinião, um caso exemplar.


REVITALIZAÇÃO
Para a sua revitalização teremos que criar dinâmicas locais de desenvolvimento cultural, social e humano, partindo de algumas núcleos duros dos quais fazem parte “associações” já implantadas no terreno com os mesmos objectivos:
• a “LIGA DOS AMIGOS DE ALPEDRINHA”,
• a “C.E.D.A. – COMISSÃO DE ESTUDO E DEFESA DE ALPEDRINHA”
• o “TEATRO CLUBE DE ALPEDRINHA”.

Para esse efeito, é necessário partir dos seus valores tradicionais: do seu património, da sua cultura ou do que ela tem de mais característico, para podermos criar novas actividades integradas numa estratégia de desenvolvimento capaz de atrair e fixar as populações destas zonas mais subdesenvolvidas da Serra da Gardunha.
O seu desenvolvimento, segundo os pressupostos enunciados por François Perroux, deve centrar-se nos seus factores endógenos , isto é, contando acima de tudo com os seus próprios recursos.
Isto só poderá ser feito, em torno de pequenas actividades ligadas ao turismo, nas suas vertentes ligadas à:
• fruição do património edificado,
• ao excelente microclima, tanto de Inverno como de Verão
• fruição da natureza, nomeadamente das suas paisagens panorâmicas.
• às actividades culturais,
• ao artesanato e
• à gastronomia local.

Para que este passo se possa dar é necessário que, contando as populações com os seus próprios meios, aprofundando a sua tendência para a auto-suficiência, mas enquadradas pelos seus líderes, saibam tomar e apoiar posições que conduzam à:
• Classificação e recuperação do centro histórico, segundo critérios de autenticidade.
• Requalificação urbana, tendo em conta as necessidades de reactivação do seu centro histórico.
• Aquisição pela autarquia de algumas casas históricas para nelas instalar, pequenos museus que preservem a memória cultural desta bonita vila e de alguns dos seus ilustres filhos (ex: Museu Cardeal de Alpedrinha, a instalar na capela do Leão).
• Assim como para a instalação adequada dos museus já existentes (o Museu da Liga dos Amigos de Alpedrinha, e a Casa Museu de Parente Pinto / Museu do Mobiliário e um pequeno e seguro Museu de Arte Sacra), procurando um espaço amplo, na perspectiva da futura ampliação das colecções existentes, instalação da documentação e reservas.
• Recuperação da paisagem da serra, junto à vila, minimizando os estragos paisagísticos causados pelo traçado da nova IP2.
• Dinamizar explorações arqueológicas, em colaboração com o meio universitário, para apurar a veracidade da existência da PETRATÍNIA dos romanos no sítio do Carvalhal Redondo, limite da freguesia.
• Activação do turismo termal (ex: abertura de concurso público para ceder a exploração das Termas da Touca a privados por um razoável período de anos).
• Criação de novos projectos de Turismo de Habitação ou rural, de preferência a grandes unidades de Hotelaria que, além de não terem viabilidade económica, criam um impacte negativo sobre a paisagem.
• Criação na periferia da vila, a caminho das termas da Touca, de um parque de campismo, com habitações de madeira adequadas à paisagem.
• Criação de um Trilho de Interpretação da Natureza, trajecto a ser percorrido por alunos das escolas com o vista à sua educação ambiental.
• Reactivar a antiga olaria local para recriar a olaria tradicional baseada nas formas decorativas tradicionais desta região. Esta deve funcionar sob a tutela da Liga dos Amigos de Alpedrinha, Misericórdia de Alpedrinha e outros apoios, virada para a interacção com o meio escolar da zona.
• Criar uma pequena escola de marcenaria, para dar continuidade a esta arte tradicional de Alpedrinha.
• Criar viveiros para criação da fauna e flora locais, que em colaboração com o colégio da vila, deve servir para estimular os alunos para a reposição da fauna e flora tradicional da serra.
• Criação de lojas de artesanato local.
• Dinamizar um centro de exposição e venda de produtos regionais de qualidade certificada (ex: vinhos da região, queijos, enchidos, mel).
• Articular os seus projectos de desenvolvimento com os da zonas da raia espanhola, com a qual há afinidades, tirando partido das novas acessibilidades que dentro em breve vão surgir.
• Encontrar formas financeiras e fiscais de por em funcionamento estes projectos, sem depender essencialmente da burocracia e o poder central.
• Integrada na lei do mecenato, tentar a colaboração de algumas grandes empresas da região (Beira Interior e Cova da Beira).
• Solicitar o apoio técnico e científico do meio universitário da região, para o estudo de viabilização de projectos que se mostrem viáveis.
• Solicitar e por à discussão, passo a passo, em sessões de esclarecimento público (no “Teatro Clube de Alpedrinha”), e através dos órgãos informativos locais (“Jorna da Liga dos Amigos de Alpedrinha”), a opinião da população da vila, para que esta sinta como seu este projecto comum.

Estes projectos deve-se apoiar preferencialmente:
• No poder administrativo local (C. M. Fundão, Junta de Freguesia de Alpedrinha)
• Nas associações e programas de desenvolvimento local e regional (RUDE – Associação de Desenvolvimento Rural)
• Nas associações de convivialidade e de assistência social (Liga dos Amigos de Alpedrinha; S. C. Misericórdia de Alpedrinha).
• Nas universidades e pólos universitários da região.


EXEMPLOS COMPARADOS
Não nos parece impossível a execução prática deste programa, senão vejamos os exemplos enunciados no princípio: Monsaraz, Marvão (no Alentejo), Idanha-a-Nova e Belmonte (na Beira Interior).
Todas estão em zonas do interior economicamente deprimidas, onde as actividades agrícolas entraram em colapso, em declínio populacional, longe dos grandes centros urbanos, muito perto da fronteira espanhola.
Por influência das suas populações, enquadradas pelos seus lideres, têm em marcha projectos de desenvolvimento cujas características têm conduzido as suas membros a um reforço da sua coesão e da sua identidade cultural.
Monsaraz e Marvão, não tem feito depender a sua requalificação urbana e patrimonial, apenas a expensas do Estado. Tem procurado atrair apoios de parte da iniciativa privada e de instituições, na recuperação do seu património e dos saberes tradicionais. É notório o caso de cooperação entre a Universidade de Évora e Monsaraz, assim como a atracção de privados para aquisição e recuperação do património edificado em Marvão.
Quanto a Belmonte e Idanha-a-Nova, tem-se verificado um grande dinamismo das respectivas autarquias com recurso a programas europeus para o desenvolvimento, centrado no património e na valorização das respectivas zonas históricas, nas actividades culturais e desportivas, para as quais se têm dotado com importantes infra-estruturas.
Belmonte tem estabelecido parcerias culturais com Salamanca, que lhe fica próxima, e com Israel, devido à sua comunidade judaica.
Idanha-a-Nova, situada muito perto de Alcântara (Espanha), e junto a duas importantes aldeias históricas (Idanha-a-Velha e Monsanto), tem sabido tirar proveito desta proximidade e de protocolos a nível do turismo e da cultura com os municípios espanhóis do outro lado da Fronteira.
Tem sido importante nestes dois casos a criação de cooperação e de laços que não se detêm nos limites municipais, mas vão para além da fronteira.
Estas duas experiências testemunham ser o despovoamento, não uma inevitabilidade histórica ou um determinismo geográfica, mas antes a consequência de um desenvolvimento mal conduzido, não centrado nos valores humanos e no reforço da coesão e da identidade cultural.
Acrescente-se que todos os exemplos citados têm – ou estão a caminho de ter – centros culturais e pólos museológicos, nos quais a sua população se revê.
Estes exemplos, pela sua natureza, devem ser um exemplo a seguir em relação ao caso da vila de Alpedrinha.

Deixar morrer Alpedrinha, não é desleixo ou insensibilidade patrimonial, mas puro homicídio por negligência.
A SUA HISTÓRIA, O SEU PATRIMÓNIO E AS SUAS GENTES – NÃO O MERECEM !…

Joao Trigueiros, 1999